São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Aposentadoria ameaça planos de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva tem sinalizado, em conversas com petistas, que pode rever a anunciada disposição de não concorrer à Presidência da República em 98.
Mas há um clima de constrangimento no PT com a revelação que Lula está recebendo aposentadoria como anistiado político.
Nenhum nome de expressão no partido assume publicamente a crítica a Lula, mas é quase consensual a análise apontando que a atitude do ex-presidente petista está causando embaraços agora e, numa eventual futura eleição, poderá causar uma sangria de votos.
Avalia-se que Lula perdeu uma perna do discurso contra a concessão de privilégios, embora legalmente o líder petista tenha direito ao benefício. Numa disputa eleitoral, raciocina-se no PT, Lula teria pela primeira vez de passar parte da campanha explicando a aposentadoria de R$ 2.195,40.
Ninguém até agora teve coragem de sugerir um recuo a Lula, embora essa seja considerada a solução ideal.
Teme-se até que adversários de petistas tenham declarações gravadas de Lula condenando a concessão do benefício que, depois, acabou requerendo.
Se Lula decidir ficar fora da disputa presidencial, o mais provável candidato petista será Tarso Genro, atual prefeito de Porto Alegre.
No setor que hoje dirige o PT não se trabalha com a hipótese de o partido apoiar no primeiro turno da eleição presidencial uma eventual candidatura de Itamar Franco ou Ciro Gomes.
As conversas com Itamar e Ciro vão continuar, mas apenas para manter aberta a possibilidade de uma aliança em eventual segundo turno em 98.
A estratégia para 98 começará a ser debatida no próximo dia 18, durante reunião em Brasília das três forças que comandam o PT.
As alas de "centro" e "direita" do PT vão fazer, também, o balanço das eleições municipais e preparar a atuação para tentar manter o poder interno em 97. Em agosto do próximo ano, termina o mandato da atual direção nacional do PT.
Há consenso, entre os atuais caciques, que o caminho para manter a unidade do setor passa pela manutenção do ex-deputado José Dirceu na presidência da legenda.
Dirceu tem o apoio de seu grupo de "centro", o "Unidade na Luta", do deputado José Genoino (SP) e da ala liderada pelo deputado estadual paulista Rui Falcão.
A discussão com Lula será feita separadamente, para não expor o líder no capítulo que vai abrir a provável batalha pelo poder com as correntes mais à esquerda no espectro partidário.
São Paulo
O deputado federal José Genoino passou a ser a bola da vez do setor majoritário do PT para uma eventual candidatura ao governo paulista em 1998.
Antes do segundo turno das eleições, a aposta era em Antônio Palocci, atual prefeito de Ribeirão Preto. A derrota do candidato petista naquela cidade, no entanto, diminuiu a cotação de Palocci.
O raciocínio que embala a articulação do nome de Genoino é que o partido precisa se abrir para as chamadas camadas médias da população. O deputado petista considera precipitada a discussão sobre a tática e o candidato para 98. Antes, quer fazer um balanço das últimas eleições municipais.
"Apareceu a luz amarela para nós. Amanhã podemos transformá-la em verde ou vermelha", afirma. Para Genoino, ficou evidente na última eleição que o PT não tem um projeto estratégico para o país e, também, padece de uma estrutura orgânica superada.

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