São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Para FHC e Mandela, apartheid hoje é social

GABRIELA WOLTHERS
ENVIADA ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

Brasil e África do Sul obtiveram grandes avanços na consolidação da democracia, mas não conseguiram, até agora, superar o "apartheid social" que separa ricos de pobres em ambos os países.
Essa foi a principal conclusão de reunião realizada ontem entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Nelson Mandela, líder negro que chegou ao poder em 1994. Eles se encontraram em Pretória, capital administrativa da África do Sul.
"Na África do Sul, o problema é o mesmo que o nosso", disse FHC depois do encontro no gabinete de Mandela, no qual assinaram quatro acordos entre os dois países (veja quadro abaixo).
"Eles têm feito grande esforço na área de saúde pública, por exemplo, o que é muito difícil, tanto lá (Brasil) como aqui", disse FHC. "Enxergar a dificuldade não significa que vamos desistir, pelo contrário, significa que temos que insistir mais", afirmou.
Com o fim do apartheid (sistema oficial de segregação racial que vigorou na África do Sul de 1948 a 1994), o país aboliu as leis que restringiam os direitos dos negros.
Mas a mortalidade infantil continua entre a população negra uma das maiores do mundo -de cada 1.000 crianças nascidas vivas, 200 morrem antes de 5 anos.
O desemprego atinge cerca de 40% da população economicamente ativa. "O presidente Mandela me disse que cerca de US$ 50 bilhões de capital deixaram o país na época de sua eleição e que, agora, estão retornando", disse FHC.
Segundo ele, isso só foi possível porque o governo sul-africano vem controlando a inflação, que hoje está em cerca de 9% ao ano.
Para FHC, é "a mesma situação do Brasil", que aumentou a taxa de juros para atrair o capital externo.
Tanto no encontro ocorrido de manhã como no jantar oferecido pelo governo sul-africano a FHC, os presidentes prometeram intensificar as relações comerciais.
"Somos vizinhos separados pelo oceano Atlântico", disse Mandela. "Nossos países estão dispostos a consolidar cada vez mais a democracia e a construir uma unidade nacional, mesmo dentro de uma sociedade diversificada."
"Aproveitemos as nossas muitas identidades e interesses comuns para construir o que certamente será uma parceria única no nosso Hemisfério Sul", retribuiu FHC. "Vamos construir uma ponte sobre o Atlântico."
Esta é a primeira vez que um presidente brasileiro visita a África do Sul. Mandela recebeu FHC e a primeira-dama Ruth Cardoso acompanhado de sua filha Zenani Mandela Dlamini.
À tarde, FHC se reuniu com o vice-presidente Thabo Mbeki tido como o favorito para suceder Mandela nas eleições de 99.

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