São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Relato de Loyola pode prejudicar dirigente

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O depoimento do presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, pode ajudar a incriminar o último presidente do Banco Nacional, Marcos Magalhães Pinto, pela fraude das 652 contas fictícias que geraram um prejuízo de R$ 5,5 bilhões.
A Folha apurou que, no depoimento dado por Loyola ontem à Polícia Federal, na sede do BC, ele disse que Marcos Magalhães Pinto e Clarimundo Sant'Anna, ex-contador do Nacional, estiveram no Banco Central cinco vezes no período de julho a outubro do ano passado para falar da situação de insolvência do banco.
Os encontros de Magalhães Pinto com Loyola, na interpretação dos investigadores que participam do caso, ajudam a comprovar que o último presidente do Nacional participava efetivamente da administração do banco.
Até agora, Magalhães Pinto tem negado que participasse da administração do Nacional e que tivesse conhecimento das fraudes. O Nacional recebeu até agora R$ 5,898 bilhões do Proer (programa de fusões bancárias).
A participação de Marcos Magalhães Pinto na gestão do Nacional pode contribuir para que a Polícia Federal e a Procuradoria da República possam denunciá-lo pela manutenção de 652 contas fictícias e outras irregularidades.
Marcos Magalhães Pinto poderá ser denunciado por supostos crimes contra o sistema financeiro. A Lei do Colarinho Branco prevê multa e reclusão de dois a 12 anos.
Gestão fraudulenta
Entre as supostas irregularidades estão gestão fraudulenta e falsificação de balanço. As contas eram manipuladas pelo ex-contador Clarimundo Sant'Anna, em um sistema computadorizado paralelo dentro do Nacional.
Santa'Anna contou, em conversa informal com auditores do BC, em janeiro deste ano, que os controladores sabiam das fraudes.
Não confirmou as informações no seu depoimento oficial à Polícia Federal. Alegou que trabalhava sob as ordens do superintendente Arnoldo Oliveira, principal executivo do banco.
O depoimento de Loyola ao delegado Eduardo da Matta, do Rio de Janeiro, acompanhado pelos procuradores Rogério Nascimento e Silvana Batini, esclareceu contradições entre as informações dadas por Marcos Magalhães Pinto.
O último presidente do Nacional diz que procurou Loyola apenas em outubro do ano passado, um mês antes da intervenção, para pedir uma solução para o problema de liquidez do banco.
Magalhães Pinto afirma que não negociou a venda do Nacional com o Unibanco antes da intervenção, mas que recebeu a proposta pronta do Banco Central.
Loyola disse que já havia intenção do ex-controlador do Banco Nacional de vender a instituição para o Unibanco quando veio procurá-lo.
Segundo o presidente do BC, Magalhães Pinto apenas contou que havia problemas de liquidez em uma carteira de crédito, mas não falou em fraudes. O presidente do Nacional alega que soube das fraudes pela imprensa.
O depoimento de Loyola durou três horas. Ele foi assessorado pelo procurador do BC, José Coelho Ferreira.

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