São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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D. Paulo critica prioridade à reeleição na agenda do país

CRISTINA RIGITANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, criticou ontem no Rio a importância que políticos, sociedade e imprensa têm dado ao tema da reeleição presidencial.
"A reeleição não é o problema número um do Brasil. O problema número um do país é o desemprego", disse o cardeal.
D. Paulo se disse perplexo com a divulgação do relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que apontou a existência de 1 bilhão de pessoas desempregadas em todo o mundo, ou 30% da força de trabalho do planeta.
"O desemprego de 1 bilhão de pessoas fere a humanidade em sua dignidade. O povo deve participar da construção do mundo, que, afinal, é de todos."
Neoliberalismo
O arcebispo culpou o sistema neoliberal por essa crise: "Nunca houve tanta injustiça social e desemprego como agora, com o neoliberalismo".
D. Paulo recebeu, na tarde de ontem, o título de sócio benemérito da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) por sua luta em defesa da liberdade de expressão.
Compareceram à cerimônia cerca de 80 pessoas, entre elas o presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho. "Sua atividade tem sido de grande apoio à liberdade de imprensa. D. Paulo tem sido solidário às causas do Brasil. No clero brasileiro encontramos adeptos à causa nacionalista, que deve ser prestigiada", afirmou Barbosa Lima.
Sucessão em São Paulo
O arcebispo está para ser substituído no comando da arquidiocese. Em setembro, ele completou 75 anos, idade da aposentadoria compulsória, de acordo com o Vaticano.
"Ainda não sei quem será meu sucessor. Gostaria de ter um sucessor o quanto antes. Mas deve ser um amigo do povo, que tenha idéias aceitas por todo o povo e não só por uma parte da nação. E o Vaticano há de colaborar", disse.
A imprensa também recebeu críticas do arcebispo: "A imprensa nunca deve tomar como assunto aquilo que é ditado pelas autoridades, mas o que ela descobre e que é do interesse do povo. E isso não se fez na ditadura e não se faz hoje de forma correta. A imprensa deveria ser mais crítica com as medidas que se tomam contra os pobres e analfabetos".

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