São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Çegundo gral é mal

GILBERTO DIMENSTEIN

Durante dois meses consecutivos, 600 alunos e 311 professores de 10 escolas demoliram cadeiras e mesas escolares. Atenção: estimulados pelas próprias escolas.
Ao redor dos móveis espatifados, os alunos foram convidados a expor o que sentiam. Dos desabafos, surgiu a matéria-prima para construir experiência contra a violência.
É uma peça de teatro destinada aos estudantes em Salvador, na Bahia -começam a aparecer os primeiros resultados positivos.
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Como em todo o Brasil, os funcionários da educação de Salvador estavam preocupados com os gastos para consertos de mesas e cadeiras. Resolveram, então, contratar um diretor -Luiz Marfuz- para criar uma peça de teatro com lições de civilidade. A idéia saiu do convencional.
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Para descobrir as motivações por trás da quebradeira, os alunos reproduziram em oficinas teatrais a demolição. Entre berros e choro, logo se viu que a cadeira era apenas saco de pancada de uma rede de frustrações -inclusive contra a própria escola.
Encenada por artistas profissionais, a peça "Cuida Bem de Mim" transformou as cadeiras num detalhe para provocar reflexão sobre violência.
A peça foi exibida este mês para 20 mil estudantes, estimulados a debater com os atores o que viram no palco. Segundo relato de professores, esse contato melhorou o comportamento de alunos agressivos; em algumas escolas, eles se organizaram em grêmios para exigir melhores aulas.
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Nesta semana, o projeto vai ser apresentado a educadores de Nova York, interessados em soluções contra a violência nas escolas públicas.
O interesse revela não apenas uma mazela americana, com suas poças de Terceiro Mundo e detectores de metal na porta das escolas.
É um fenômeno mundial, inclusive na afluente Europa. Educadores perseguem desesperadamente experiências para reduzir a violência.
Os governos não têm demonstrado capacidade de se preparar para as novas exigências do mercado, reciclando expressivas camadas de jovens de famílias mais pobres, engrossando crime, desemprego e subemprego.
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O saber é cada vez mais determinante no salário. A diferença de rendimento entre um profissional com curso superior e alguém apenas com colegial nos EUA era, em 79, de 50%. Agora, chega a 90%.
Já são exigidos do trabalhador americano pelo menos dois anos na faculdade, e a fixação nacional é conectar todas as salas de aula à Internet. Aposte: teremos de importar trabalhadores, como empresas importam executivos.
Basta ver a avaliação dos alunos do segundo grau, que, em sua maioria, não aprendem como deveriam noções básicas de português. Será que todos os estudantes saberiam corrigir o título desta coluna, descobrindo os três erros? Por aí se entende por que os alunos se vingam nas cadeiras e ajudam a destruir perspectivas de gerações.

Fax (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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