São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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'Há muitas Sowetos no Brasil'

DA ENVIADA ESPECIAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem que existe preconceito e discriminação racial no Brasil, onde, afirmou, há "centenas de Sowetos".
Ele se referia ao bairro negro de Soweto, em Johannesburgo, que se tornou mundialmente conhecido por ter sido o principal palco da luta contra o apartheid.
"De fato, havia e há preconceito e discriminação no Brasil, e nós também estamos tentando organizar nossa sociedade em bases diferentes", afirmou o presidente.
FHC e a primeira-dama Ruth Cardoso passaram a manhã de ontem em Soweto. O presidente brasileiro se emocionou ao visitar o líder negro Walter Sisulu, considerado o "conselheiro-chave" de Mandela. Ruth Cardoso chorou.
Hoje com 84 anos, Sisulo esteve preso por 27 anos junto com Mandela por causa da luta contra o racismo. Mandela, atual presidente da África do Sul, foi preso e condenado à prisão perpétua em 62. Só foi libertado em fevereiro de 90, após pressão internacional.
Mandela e Sisulo são considerados os principais líderes da CNA (Congresso Nacional Africano), partido hoje no poder.
Sisulo recebeu FHC em sua casa, localizada em uma rua que leva seu nome. Foi a primeira vez que recebeu um chefe de Estado em casa.
"Foi o momento mais importante desde que assumi a Presidência da República", disse FHC. "Ele é orientador de Mandela, esteve preso com ele, e nos tocou profundamente a forma como fomos recebidos por esse grande líder."
Sisulo acompanhou o presidente até a porta de sua casa. "Sabemos que o povo do Brasil e da América Latina nos deram um maravilhoso apoio, ganhamos a luta contra o apartheid porque tivemos a confiança de vocês", afirmou.
FHC visitou o monumento levantado em homenagem ao menino Hector Peterson, que morreu aos 13 anos no "massacre de Soweto", em 1976. De 16 a 18 de junho de 76, a polícia reprimiu violentamente um protesto dos negros, que não aceitavam que o africâner (língua adotada pelos colonizadores holandeses) fosse a língua oficial adotada nas escolas. Centenas de pessoas morreram no conflito.

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