São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Os maiores traficantes

JANIO DE FREITAS

Entre as três finalidades da nova CPI -investigar "a autorização, a emissão e a negociação" de títulos estaduais e municipais (os "papagaios" com que governadores e prefeitos captam dinheiro na ciranda financeira, autorizados pelo Senado), os parlamentares estão interessados nas duas primeiras, como armas da batalha política já bem intensa. Mas, para o bem do país, a terceira finalidade é que deveria concentrar todos os esforços.
O mercado dos títulos públicos, aí incluídos também os do governo federal, tem sido o pasto das piores patifarias financeiras. Fortunas se fazem com a rapidez de ventanias, deixando as evidências mais desabridas do uso de informações privilegiadas. O tráfico de drogas, no Brasil, dá rendimento ridículo em comparação com o tráfico de informações de dentro do governo para certos banqueiros e corretores.
A mais recente imoralidade originária do Banespa seria, em qualquer país com um mínimo de compostura nacional, um escândalo daqueles. Há uma semana, as ações de um banco espatifado como o Banespa começaram a subir nas Bolsas de Valores. Na segunda-feira o governo federal soltou a informação de que estava feito o acordo com governador Mário Covas, pelo qual o Banespa e seus cacos passam a ser federais.
Mas as chamadas autoridades financeiras não quiseram notar o repentino compra e vende ações. O mesmo não se pode garantir quanto aos lucros montanhosos produzidos no compra e vende, esse era assunto com numerosos interessados: na ciranda financeira não há adivinhos e alguém (ou vários) entre as tais autoridades passou a informação valiosa para os seus associados cá de fora, formais ou não.
O atual governo é incansável na realização de episódios assim. Nenhum dos anteriores lhe pode ser comparável. Dois casos mencionados são insuficientes para encerrar o que acontece só neste momento. Além daqueles, há também o do espantoso movimento de compra e venda de Títulos da Dívida Agrária (TDAs), ocorrido nos oito a dez dias que antecederam a Medida Provisória lançada a meio da última semana.
Na MP, Fernando Henrique Cardoso estabeleceu o resgate, ou compra, pelo governo, de TDAs emitidas até junho de 92. É ocioso repetir, mas vá lá, que nem os mais vivaldos da ciranda financeira poderiam imaginar, quanto mais prever na certa, que papéis tão chinfrins recuperariam o valor de repente. Entre as principais figuras do governo, porém, não era preciso adivinhar.
Temeroso de que esta imoralidade se reflita contra a MP no Congresso, o governo fez o Banco Central abrir uma sindicância para investigar a responsabilidade pelo vazamento da informação. Investigação que se voltará tanto para o próprio rigor, que nem terá tempo de pensar no vazamento. Claro.

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