São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Mulheres superam homens na compra de livros

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres compram mais livros do que os homens. Segundo um levantamento realizado pelo Datafolha no mês de outubro, 61% dos livros vendidos foram adquiridos por mulheres e 39%, por homens. Essa média foi observada nos últimos três anos, segundo o levantamento.
As compradoras são emancipadas, têm entre 24 e 44 anos, a maioria com grau superior. Escolhem seus livros primeiro pelo tema (59% delas) -que hoje já ultrapassa os limites dos livros de auto-ajuda e dos "romances cor-de-rosa"-, em segundo lugar, pelo autor (13%).
Mesmo sabendo que grande parte dos compradores de livros é composta por mulheres, essa fatia do mercado ainda é uma incógnita para as editoras. A maioria delas ainda não tem política de lançamentos para atingir esse público.
"São mulheres que compram livros não só para si, mas para dar de presente, para a família", disse Aluísio Leite, sócio-proprietário da Editora 34.
Segundo ele, é difícil caracterizar esse público. "As editoras fazem lançamentos para o público em geral e não há um mapeamento de vendas que indique que mulheres compraram mais um ou outro título", afirmou.
A 34 lançará em março o livro "Mulher e Trabalho - 33 Histórias de Amor e Ódio", que conta com depoimentos de mulheres que trabalham. A autoria é da jornalista Maria Silvia Camargo e da fotógrafa Cristiana Isidoro.
"Não é um lançamento voltado apenas para mulheres, mas certamente elas vão comprar, já que ali estarão reunidas entrevistas com mulheres que têm diferentes atividades, como babá, cantora, empregada, executiva etc."
Maria Silvia iniciou sua pesquisa a partir de um dado do último levantamento do IBGE, de que a proporção de ingresso no mercado de trabalho era de 3,5 mulheres para cada homem. "O livro é uma microamostragem da relação das mulheres e seus trabalhos", disse.
Leque
Para a editora da Paz e Terra, Christiane Rõhrig, o caminho para conquistar essa fatia do mercado é a diversificação dos títulos.
"O grande lance é buscar o público feminino que se interessa por um leque de opções", disse.
Uma experiência da editora foi lançar coleções de interesse geral, para um público que procura livros de curiosidade e de humor. "É surpreendente como as mulheres procuram esses livros", disse Christiane. Mas ela ressalta que a coleção Leitura, que reúne títulos de Shakespeare, Oscar Wilde e Antonio Candido, tem grande aceitação pelo público feminino.
"É interessante que o formato é o livro de bolso, para se encaixar no paletó, mas ele se adaptou às bolsas das mulheres", disse.
Uma surpresa para os editores foi notar que livros de culinária são adquiridos por muitos homens e os sobre relacionamento, sexo, beleza e humor são mais comprados pelas mulheres.
Best sellers que unem o thriller de ação com elementos do judiciário em que a personagem principal é uma mulher decidida, ativa e em perigo são os recordes de vendagem da editora Rocco para o público feminino, segundo a gerente editorial Vivian Wyler.
"O público masculino lê mais literatura profissional e sobre viagens, enquanto a mulher lê tudo o que pode, independente de seu trabalho ou hobby", disse.
Para Rose Marie Muraro, há seis anos à frente da editora Rosa dos Tempos, que lança títulos voltados para o público feminino, os livros para mulheres são uma nova categoria. "São os livros de gênero, que aparecem ao lado dos livros de etnias e de classe. Este é um dos grandes movimentos do fim do século", disse.

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