São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996 |
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John Cale larga experimentalismo e se volta ao pop em novo álbum
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Bravo. Essa tem sido a encruzilhada do co-fundador, em 1965, da banda norte-americana Velvet Underground. No novo CD, ele se reaproxima do pop deixado de lado desde que abandonou o grupo, em 67. Isso acarreta lá seus problemas. Cale fincou estacas profundas no pop que o sucedeu, seja pela influência do Velvet sobre todo mundo que veio a fazer música, seja pela atividade de revelador/produtor de artistas os mais explosivos -os Stooges de Iggy Pop, Patti Smith, os Modern Lovers de Jonathan Richman, Nick Drake, Nico. Nessa lista de discípulos, encontram-se também os Talking Heads de David Byrne (que aqui co-compõe -e toca guitarra em- "Crazy Egypt"). Aí está um problema: Byrne copiou Cale com tanto furor que hoje, querendo ser pop, Cale soa como... David Byrne. Assim, o que é matriz fundadora do som de Cale -os funks "Dancing Undercover" e "So What" são bons exemplos- acaba parecendo cabecismo e pretensão, como tem sido em tudo que Byrne já fez em carreira solo. Mais que isso, as vozes dos dois artistas são muito parecidas, o que aprofunda o perigo de John Cale acabar parecendo a cópia de sua própria cópia. Não é nada disso, é claro. Na maior parte do CD, felizmente, sua música pop recheada de complexos e sofisticados arranjos instrumentais não parece feita pelos Talking Heads. Isso salta aos ouvidos nas faixas mais melancólicas e sincopadas (menos pop, portanto) -"So Much for Love", "Secret Corrida" e "Circus" (esta com trecho declamado em bom português por uma voz feminina). São os momentos em que Cale se faz ainda essencial. Delas, se percebe que "Songs for Drella" (90), o disco em que Cale e Lou Reed se reencontraram para homenagear Andy Warhol, era muito mais a cara de Cale que a de Reed -razão a mais para este último, sempre temperamental, ter novos ataques de ego. Farpas com Reed à parte -elas continuam sendo trocadas, desde 67-, é ainda na relação com os ex-Velvets que Cale se assenta. Traz a baterista Maureen Tucker em várias faixas e homenageia o guitarrista Sterling Morrison, morto em 94. Nem cita Lou Reed, que prestou tributo equivalente a Sterling em seu último trabalho, "Set the Twilight Reeling" -bem mais pop, aliás, que o disco mais pop de Cale. Tudo continua como sempre foi, e não há nada de novo no front. (PAS) Disco: Walking on Locusts Artista: John Cale Lançamento: Ryko (importado) Preço: R$ 21, em média Onde encomendar: Bizarre (tel. 011/220-7933) Texto Anterior: Ídolo pop português se afasta do hip hop em "Tempo" Próximo Texto: Coletânea reúne o melhor e o pior de Chaka Khan Índice |
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