São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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O Brasil traça seu mapa olímpico

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com três anos e dez meses de antecedência, a Olimpíada de Sydney, na Austrália, já começou para o esporte nacional, e o Comitê Olímpico Brasileiro alerta, quem não quiser perder o trem que suba agora -ou nunca.
A ordem é reestruturar. O trabalho se inicia pelas confederações e federações esportivas, responsáveis pela administração do maior patrimônio do desporto nacional, o atleta federado.
Todo esportista cuja ficha consta do cadastro da confederação relativa à modalidade que ele pratica é "federado". Mas não é só. Os federados formam a camada de atletas que competem, representam um clube ou agremiação esportiva.
Nessa categoria estão alguns que se dedicam um pouco mais aos treinos e se destacam. Passam a representantes de seus Estados e, em alguns casos, do país. Em síntese, federado é o atleta de alto nível, aquele com potencial de integrar uma delegação olímpica.
A Folha pesquisou a "saúde" das 26 confederações brasileiras de esportes olímpicos. Ouviu dirigentes, atletas e técnicos. O resultado, apresentado neste caderno, revela as seguintes tendências:
1- A disparidade econômica entre as regiões brasileiras se reproduz no esporte. Os atletas e as federações se concentram no eixo Sul-Sudeste;
2- Falta organização a todas as confederações esportivas do país. Em maior ou menor escala, impera a desordem, especialmente no armazenamento de dados. Mais da metade delas não possui sede própria, e 40% não completaram o processo de informatização;
3- Os principais problemas dessas entidades são a falta de verbas, de material esportivo nacional adequado, de treinadores formados nas faculdades de educação física do país e de divulgação;
4- Há uma faixa de esportes com baixo número de atletas federados e sem potencial para atrair novos adeptos;
5- Existe um esforço por parte dos dirigentes para se adequar às exigências do COB, no sentido de planejar suas atividades com vista aos Jogos de Sydney.
As conclusões foram levadas ao presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. Segundo ele, a entidade vai trabalhar para dar uma estrutura mínima às confederações, "sem paternalismo".
Aos itens acima listados, Nuzman deu as seguintes respostas:
1- "Não é finalidade do COB combater as disparidades regionais do Brasil";
2- "Concordo que a reestruturação do esporte tenha de acontecer. Agiremos no sentido de que todas as confederações tenham uma sede, um corpo de funcionários remunerados e recursos para desenvolver suas modalidades, os quais podem vir de patrocínio, do COB ou do Indesp (órgão federal ligado ao Ministério dos Esportes)";
3- "A iniciativa de querer melhorar parte de cada um. Todos têm condições de arrumar patrocínio. Para a falta de técnicos, criaremos o Centro Olímpico de Estudos do Esporte, que formará profissionais de alto nível";
4- "Aumentar o número de praticantes depende da imagem do esporte, de seus resultados, seus ídolos. Não é preciso massificação para se iniciar um esporte. É melhor trabalhar um grupo pequeno e fazê-lo obter resultados. Vamos priorizar as seleções olímpicas";
5- "O COB também se esforça para ver como é possível participar da estruturação das confederações. Esse processo tem de estar viabilizado até o fim de 97".
Na outra ponta da linha, mais ou menos inteirados do diálogo entre os dirigentes, aparecem os atletas, a maioria anônimos amadores, mas que carregam o esporte como legítimo ofício.
As próximas páginas contêm histórias de alguns desses federados, nenhum deles com vaga assegurada em Sydney, mas todos na mesma batalha. Ninguém quer perder o trem.

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