São Paulo, domingo, 1 de dezembro de 1996
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Profissionalismo ainda 'intriga' SP

Apenas 18,3% acham esporte profissional no país

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O basquete paulista encontra-se em algum lugar entre o profissionalismo dos seus salários e o amadorismo de sua estrutura. Onde, ninguém sabe ao certo -nem atletas, nem os técnicos, nem mesmo os dirigentes.
Apesar de a maioria (64,3%) dos jogadores do Campeonato Paulista masculino terem o basquete como única fonte de renda, um número ainda maior (81,7%) não considera o esporte profissional.
A Folha entrevistou 109 jogadores das dez equipes que disputam o torneio, o mais importante do país. À pergunta "O basquete brasileiro é profissional ou amador"?, 41,3% responderam "amador", e 18,3%, "profissional".
Quase a metade (40,4%) não respondeu objetivamente à questão, considerando o esporte "semiprofissional".
A pesquisa, inédita, coincide com o centenário do basquete profissional, tema de série do caderno Esporte nos próximos dias.
A contradição entre salários que podem ultrapassar os R$ 10 mil por mês e a falta de organização de clubes e federações é a principal causa da "crise de identidade" do esporte no Brasil.
O armador Marco, do Corinthians-Amway, compara a situação à realidade do país. "Uma pequena parcela vai muito bem, a maioria está parada no século 19."
Há quem considere o problema mais simples, como o ala Paulinho Villas-Boas, do Report/Mogi. "Se você recebe alguma coisa por seu trabalho, já é profissional."
O raciocínio é contestado pelo ala Oscar Schmidt, do Corinthians/Amway, que atuou durante 13 anos na liga profissional italiana. "Só dinheiro não quer dizer nada. Não somos regulamentados, falta organização. Somos amadores querendo ser profissionais."
No aspecto legal, também prevalece a indefinição. Para o jurista desportivo Valed Perry, o jogador de basquete no Brasil não tem, a rigor, uma identidade definida.
"É uma situação 'sui generis', porque ele não se enquadra em nenhuma das categorias previstas na Lei Zico", afirma.
Os "profissionais" são contratados como qualquer trabalhador, com carteira assinada e direitos e deveres previstos na Constituição.
Os "não profissionais" podem receber só incentivos materiais (roupas, transporte, bolas) como auxílio à prática esportiva.
Os "amadores" não têm direito a remuneração ou incentivo de qualquer espécie.
O técnico do Guaru e ex-jogador da seleção, Marcel de Souza, não duvida que o basquete no país ainda é amador e acha que isso "é muito bom" para o esporte. Marcel diz que a profissionalização seria ruim para jogadores e clubes.
"Os clubes quebrariam se tivessem que pagar todos os impostos cobrados na relação patrão/empregado, e os jogadores não ganhariam nada a mais, já que os direitos e benefícios da profissionalização não valem nada no Brasil."
Segundo o técnico, o país tem problemas mais urgentes do que a profissionalização dos jogadores de basquete. "Quando consertar o país, podemos pensar nisso."
Para o presidente da Confederação Brasileira de Basquete, Renato Brito Cunha, o basquete brasileiro é "profissional de fato e amador de direito". Cunha considera que a profissionalização seria a melhor maneira de popularizar o esporte, mas reconhece que os clubes não têm estrutura para a mudança.
"O primeiro passo seria criar um fundo de empresas controlando os clubes. Como isso pode ser operado eu não sei."

LEIA MAIS sobre a pesquisa e o basquete paulista nas págs. 13 e 14

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