São Paulo, domingo, 1 de dezembro de 1996 |
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País precisa de teste específico
VANESSA DE SÁ
"O grande problema é que esses testes foram padronizados em populações de Primeiro Mundo. Não temos nenhuma padronização feita para a nossa população. Na ótica de todos nós essa taxa é intolerável. O tolerável gira em torno de 5%", diz Gollop. Segundo ele, esses testes, que incluem o teste duplo, o triplo e o da alfafetoproteína, foram vendidos como uma grande alternativa por serem não-invasivos (não é preciso "picar" a barriga da mãe). A alta taxa de falsos positivos acaba obrigando os médicos a passar para uma outra etapa, invasiva, que inclui os exames amniocentese e vilocoriônico. "Já tivemos casos de perda do feto devido a esses exames porque fomos obrigados a passar para a fase invasiva. O risco nessa etapa é de uma perda a cada 200 exames." Para o médico, embora a perda seja pequena, "é uma perda". "Se você perde uma gestação que estava em risco, é uma situação. Se você perde uma gestação que não estava em risco, a situação, do ponto de vista ético, é completamente diferente." Mais de 35 anos Às vezes é preciso chegar até a etapa invasiva, mesmo que nenhum exame anterior tenha apontado um risco elevado para alguma anomalia fetal. Isso acontece, por exemplo, quando a mãe tem 35 anos ou mais. Isso porque o óvulo envelhece com o tempo, e quando isso acontece há um risco maior de haver problemas na hora de a célula se dividir, o motivo pelo qual acontece a maior parte das anomalias. O risco de mulheres de 30 anos terem um bebê com alguma anomalia, por exemplo, é de 1 para 700. O risco sobe para 1 para 200 em mulheres de 35 anos. "Esse é uma conceito difícil de ser explicado porque, em muitas ocasiões, uma mulher que já deu à luz e que não tem nenhum problema na família não imagina que a partir de uma certa idade passa a ter risco elevado". Teste do pezinho O acompanhamento da criança conta com exames que são feitos após a fase fetal. Certos testes são capazes de, no momento do nascimento do bebê, detectar doenças congênitas. Um dos mais conhecidos é o "teste do pezinho", capaz de apontar se a criança apresenta uma doença chamada fenilcetonúria. A frequência dessa doença na população é de um afetado para cada 15 mil nascidos vivos. "Nós fazemos uma loucura. Triamos a fenilcetonúria e o hipotiroidismo congênito, cuja frequência é de 1 para 4.500, e deixamos de triar a anemia falciforme", diz Gollop. A anemia falciforme é uma doença congênita que atinge a população negra -45% da população brasileira- e afeta a forma das hemácias, as células vermelhas do sangue responsáveis pelo transporte de oxigênio para todas as partes do corpo. "Não se faz nada em relação a isso, e justamente em relação a uma doença cuja frequência na população é muito mais alta do que a fenilcetonúria: 1 para 300 nascidos vivos", afirma Gollop. Segundo ele, a estimativa é de que haja cerca de 200 mil afetados pela doença no Brasil. "Não se tem isso como prioridade no Brasil porque todos nós sabemos que a população negra ainda é marginalizada. As prioridades no Brasil não são essas que estão sendo atacadas." Texto Anterior: Exames que detectam malformações no feto Próximo Texto: Justiça começa a autorizar o aborto Índice |
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