São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Multinacionais vão à caça de brasileiros

CRISTIANE PERINI LUCCHESI

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Globalização e aumento do mercado no país com o Real elevam procura por profissionais de administração

Há dez anos, Edson Vaz Musa era um caso raro e isolado.
Hoje, multiplicam-se os nomes de executivos brasileiros nos conselhos de administração de grandes empresas transnacionais.
A globalização força as empresas a readaptar seus conselhos, chamando executivos dos países onde têm filiais. Com isso, obtêm melhor atuação mundial.
Há até casos de "boards" integrados majoritariamente por executivos de fora do país de origem.
O Brasil, além de sua já conhecida fama de país-escola, ganha importância por causa das dimensões de seu mercado -ampliadas com o Plano Real- e do seu papel de destaque no Mercosul.
As filiais brasileiras, quando vão bem, representam fatias significativas do faturamento da matriz. Podem também contribuir muito para derrubar o lucro.
"As empresas são globalizadas, mas agem regionalmente. Precisam se adaptar à cultura local", diz Luiz Fernando Furlan, do conselho da Panamco, que reúne engarrafadores da Coca-Cola no Brasil, México, Colômbia e Costa Rica.
"Ajudo nas decisões de investimento e orçamentos", diz Furlan.
Foram justamente o tamanho e a importância da Spal, engarrafadora da Coca-Cola no Brasil, que levaram Furlan ao conselho da Panamco, diz David Ivy, da empresa de caça a executivos Korn/Ferry.
"Eles queriam alguém do Brasil. Entregamos 15 nomes, e o escolhido foi o Furlan", disse Ivy.
Segundo Ivy, com a globalização, as empresas buscam "boards" ativos, com conselheiros mais envolvidos em atividades executivas, inclusive das filiais.
Foi também a dimensão alcançada pela Alcoa/Brasil que levou Alain Belda ao conselho mundial da empresa e, neste ano, à sua escolha como próximo "chairman".
"O executivo e o empresário brasileiro têm experiência em criar estruturas estáveis em ambientes altamente instáveis", diz o presidente mundial do Banco de Boston, Henrique Meirelles.
Primeiro brasileiro a assumir a presidência de um banco estrangeiro instalado no país, em 84, Meirelles acredita que a estabilização contribuiu para aumentar a procura por executivos no país.
Ele diz que enfrentou desconfiança de parte do mercado internacional quando virou presidente mundial do Boston, neste ano. "Muita gente achou absurdo um brasileiro no posto. Disseram que as ações iam cair, mas elas sobem."
Na contramão
O grupo Rhône-Poulenc passa a ter um conselho só de franceses com a saída de Edson Vaz Musa. "Não acredito que isso enfraqueça a posição do Brasil na companhia", diz.
Segundo Musa, os executivos indianos são conhecidos por serem bons na matemática e os brasileiros, pela capacidade gerencial de recursos humanos, trabalho em equipe e contatos externos.

LEIA MAIS sobre executivos e globalização na pág. 2-5

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