São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Carteira mundial tem mundo de problemas

GABRIELA CUNHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em abril deste ano, a UNE (União Nacional dos Estudantes), a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a agência de turismo STB (Student Travel Bureau) fizeram um acordo para associar a carteira nacional de estudante à carteira internacional de descontos Isic (International Student Identity Card).
A nova carteira promete o benefício da lei de meia-entrada e ainda descontos em mais de 115 mil estabelecimentos conveniados, no Brasil e 93 outros países.
O Folhateen foi conferir se essa maravilha toda realmente funciona, ideal para ser usufruida nessa época de compras de Natal e férias.
Tirei minha carteira no início de novembro. Junto com ela, recebi o "Guia de Descontos 1996", com os endereços, telefones e nomes das lojas conveniados.
Passei duas semanas visitando ou contactando, por telefone, 39 estabelecimentos da Grande São Paulo. Resultado: vários defeitos, que inviabilizam o uso devido da carteira, foram detectados.
Endereços errados
Primeiro problema: o guia traz números de telefone, endereços e nomes incorretos. Das 39 lojas, 5 tinham esse problema.
Segundo: várias lojas (25% das pesquisadas) constam do guia como conveniadas, mas alegam não ser. Entre elas, marcas conhecidas, como TKTS (roupas) e Swensen's (sorveteria).
Em suas filiais do Shopping Morumbi, funcionários das lojas alegaram desconhecer a carteira.
Em visita a três fast food do Continental Shopping (King Donuts, Fry-Chicken e Germany's), encontrei comerciantes inconformados. Eles constam indevidamente do guia, já que, como dizem, haviam rescindido seus contratos para 96.
O guia traz estabelecimentos franqueados que não pertencem, juridicamente, à marca conveniada. Descobri esse detalhe ao tentar fazer compras na Papelaria Dux do Shopping Morumbi.
Ao ser indagada sobre o desconto, uma funcionária explicou que aquele convênio havia sido estabelecido pela matriz da empresa (que tem um dono) e não por aquela franquia específica (que tem outro).
Logo em seguida, outro funcionário se apressou em dizer que, devido à procura, aquela franquia havia decidido também conceder o desconto de 10%. Saí de lá sem comprar nada, irritada com o trabalho que é fazer compras com a carteira mundial.
Casos como esse, de choque de informações envolvendo franquias, constituem o problema mais comum do guia. Minha experiência mostrou que essa falha é quase uma regra: dos dez locais que informaram não dar desconto para estudantes com a carteira mundial, sete eram franquias de marcas maiores. Entre elas, China in Box e Lacqua di Fiori, além dos já citados Fry-Chicken, Swensen's e TKTS.
Portanto, se você encontrar no guia o nome da sua loja, curso, academia ou fast food preferido, saia de casa prevenido.
É possível que o desconto seja dado apenas em alguns endereços específicos, e não exatamente em todos que constam do guia. Telefone antes de sair de casa para não se decepcionar.
Para completar, várias lojas dão percentuais de desconto diferentes do que informa o guia (problema registrado em 15,4% dos estabelecimentos pesquisados). Ou então descontos que mais parecem bônus. Foi o que ocorreu na Casa do Esportista do Shopping Interlagos, que, segundo o guia, dá 15% de desconto. Pelo telefone, descobri que esse percentual não é exatamente descontado da compra, mas adicionado a ela em forma de mercadorias.
Ao fazer uma compra de R$ 100, por exemplo, o estudante teria direito não a pagar R$ 85 à vista, mas a levar mais R$ 15 em produtos da loja.
Terminada a maratona, verifiquei também que, das 39 lojas em pauta, 16 (41%) cumpriam o que estava prometido no guia. Um percentual muito baixo para uma carteira que se pretende universal.
Mas o guia esconde boas surpresas, como um desconto de 50% nas calças jeans básicas da grife Chopper, nos Jardins.
Na compra, economizei cerca de R$ 35, o que compensou parte da aporrinhação que sofri em lojas supostamente conveniadas.

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