São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Portenhos resistem à cruzada contra o fumo

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O homem é o único animal que não foge da fumaça. Ou melhor, 30% da espécie, segundo a contabilidade de fumantes feita pela Organização Mundial da Saúde.
E não é diferente em Buenos Aires, onde os fumantes ainda podem contar com a cumplicidade dos não-fumantes, que são bastante tolerantes.
O país não assimilou bem a onda antitabagista, e a resistência está até cultuada em diversos tangos, um símbolo nacional que não cansa de louvar o fumar e o tabaco (leia texto nesta página).
Uma das vantagens dos fumantes é a colocação nos restaurantes e confeitarias: geralmente ficam em mesas próximas das portas e janelas para melhor ventilação.
Isso garante uma posição privilegiada no esporte de ver e ser visto das avenidas portenhas, como Corrientes, Callao e Santa Fé.
São raros os casos de protestos de não-fumantes, que, se incomodados, pedem aos garçons que se dirijam ao cliente com o cigarro.
Por lei municipal, deve haver divisão entre os dois grupos, mas a fiscalização não é severa.
Transitar fumando
Os taxistas argentinos também convivem bem com os passageiros que fumam.
Poucos táxis portam adesivos de proibido fumar. Por outro lado, vários têm seus cinzeiros no banco traseiro.
Mas, de qualquer forma, o melhor é perguntar ao taxista se a fumaça incomoda -se ele estiver fumando, fará o mesmo.
Caso tenha o azar de pegar um taxista antitabagista e a vontade de dar uma tragada seja irreversível, não duvide de mudar de veículo, já que o típico táxi amarelo e preto é o que não falta em Buenos Aires.
Nos ônibus e nos vagões de metrô é proibido fumar. Cigarros são vendidos nas estações de metrô, e algumas pessoas fumam na plataforma, apesar do gentil cartaz que diz "Roga-se não fumar".
Tabacarias
O lugar por excelência para comprar cigarros na Argentina são os quiosques, distribuídos por todos os quarteirões do país. Mas, se o vício for charuto ou cachimbo, os endereços são mais precisos.
As melhores tabacarias ficam na avenida de Mayo e na região da praça San Martín.
Os estrangeiros mais assíduos nessas lojas são os norte-americanos, atrás do tabaco cubano que não conseguem em seu país pelo embargo econômico à Cuba.
O principal importador de charutos é justamente um parente de Ernesto "Che" Guevara, lendário argentino que participou da guerrilha e do governo de Fidel Castro.
Nos EUA, são vendidos o charuto hondurenho ou dominicano, mas não são a mesma coisa. Na Argentina, pode-se conseguir as marcas cubanas Montecristo, Partagás ou Cohiba, a ex-preferida de Fidel Castro.
Alguns restaurantes, como o Pedemonte, na avenida de Mayo, oferecem um legítimo charuto cubano após a sobremesa.

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