São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
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Projeto quer ampliar aborto, diz igreja

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Igreja Católica é contra o projeto que garante atendimento público e gratuito ao aborto legal por entender que se trata de uma estratégia para ampliar o aborto por decisão dos pais.
A proposta deve ser votada -e aprovada- hoje pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Depois, segue para apreciação no Senado.
O projeto prevê que o aborto seja feito no máximo sete dias após a apresentação dos documentos necessários, como boletim de ocorrência e laudo de lesões corporais comprovando estupro.
O Código Penal só permite a interrupção da gravidez quando há estupro ou risco à vida da mãe.
Apesar de a exigência não estar prevista na lei, a maioria dos hospitais públicos requer uma decisão judicial para fazer o aborto.
A demora da Justiça acaba inviabilizando o aborto, que só pode ser feito até a 12ª semana de gravidez.
"O simples registro policial e o exame do Instituto Médico Legal não qualificam o crime de estupro. Além disso, a gravidez na adolescente até 14 anos é, presumivelmente, fruto de estupro", afirmou ontem a irmã Fernanda Balan, da Pastoral da Família da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em fax respondendo perguntas feitas pela Folha.
Mobilização
Segundo a irmã Fernanda, "na realidade, o que se pretende com o chamado 'aborto legal' é estender o aborto a pedido".
Para a igreja, há vida desde a concepção. Todo aborto -mesmo o admitido na lei ou quando há má-formação grave do feto- é encarado como uma forma de tirar a vida de um ser humano.
Ontem, o comando da Pastoral da Família se reuniu em Brasília para discutir a votação do projeto e formas de mobilização.
Na última quinta-feira, a TFP (Tradição, Família e Propriedade), entidade católica ultraconservadora, iniciou a reação ao projeto que será votado na Câmara.
Em anúncio publicado em jornais, a entidade lançou um "alerta à nação" para a votação do projeto sobre aborto legal, segundo eles uma "tentativa sorrateira de ampliação do aborto".
A TFP conclamou a "todos os brasileiros" que neguem seu voto aos parlamentares que votarem pela aprovação do texto, e pretende levar um grupo de manifestantes à votação de hoje.
O Grupo de Mulheres Católicas pelo Direito de Decidir, com representações em vários países, defende que a posição contrária ao aborto é oficial na igreja, mas não consensual.
"Existe um discurso de teólogos que apóia as mulheres em sua autonomia no campo reprodutivo", diz a coordenadora do grupo, Maria José Rosado, socióloga e ex-freira.
Segundo ela, o grupo, cujos membros têm alguma história de ligação com a igreja -ex-religiosos e devotos leigos-, são favoráveis à autonomia da mulher no campo reprodutivo e sexual.

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