São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Poucas mudanças serão muito para o futebol

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, as semifinais sem o quarteto de frente da fase inicial do Campeonato Brasileiro são a derrocada final do mata-mata para torneios desse porte.
Não dá para esperar nada dos espertalhões que dirigem clubes e federações -menos, é claro, o autolocupletar-se-, mas que a lição não seja esquecida nos próximos anos.
Não bastasse o formato inadequado para o mais importante campeonato nacional, a sistemática da disputa em 180 minutos, baseada no saldo de gols, compromete, quase sempre, a partida da volta.
O pequeno público que foi ao estádio na primeira fase deve, com toda razão, estar com a sensação de ter sido tungado.
*
Times mais técnicos tendem a se dar bem nos torneios mais longos. Times mais competitivos -mais próximos do futebol força- tendem a se dar bem no mata-mata.
No Brasil, já temos a Copa do Brasil, que ganhou legitimidade no sistema mata-mata. OK, fica preservada a oportunidade para os times competitivos.
Já o Campeonato Brasileiro precisa ser disputado de outra maneira. Nossa tendência não é o de pontos corridos pleno.
Então, que se adote uma melhor de três entre os campeões dos dois turnos, ou um torneio extra entre os dois mais bem colocados em cada turno.
Essa modalidade, tendo continuidade por alguns anos, acabará definitivamente assimilada pelo sistema (torcedores, telespectadores, patrocinadores etc.) do futebol local.
*
Duas medidas bastam para resolver cerca 70% dos problemas que estão levando o futebol brasileiro à falência total (cresce assustadoramente o número de jogadores que tomaram ou estão tomando calote dos clubes, veja só).
A primeira delas é a privatização dos times, acabando com a estrutura arcaica e insolúvel dos clubes.
A segunda é a racionalização do calendário. Um time não poderá fazer mais do que 60 e poucas partidas por ano.
Os times disputarão nacionalmente um torneio regional curto, uma Copa do Brasil no mata-mata e o Campeonato Brasileiro em turno e returno.
O Brasileiro só terá rodadas nos fins-de-semana. A televisão aberta mostrará apenas uma partida por semana.
*
O leitor, desiludido com os caminhos do futebol, perguntará: -Ué, mas é tão simples?
Sim, caríssimo, é simples.
Mas não há nenhum dos urubus que vivem da carniça do futebol brasileiro interessado em adotar as poucas mudanças que significarão muito para o fut-futuro.
*
Um amigo, competente e jovem executivo, participando da campanha pelo voto branco no Flamengo, conta, estarrecido, o pavor com que as pessoas "do bem" recebem o pedido para participar do movimento para mudar o rubro-negro.
Nenhuma pessoa digna quer participar do mundo do fut.
*
Um empresário de peso, escolado na vida dos times, diz que não patrocinará mais nenhum. Pior, recomenda aos seus companheiros empresários que fiquem fora do fut.
Como eu digo, só a falência salvará o futebol brasileiro.

Texto Anterior: Os semifinalistas
Próximo Texto: Giz e lousa?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.