São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'EU BANCO A PORTUGUESA'

DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando dos Santos Esquerdo, 55, dono da rede de lojas Armarinhos Fernando, o patrocinador da Portuguesa, é uma pessoa que prefere o anonimato, a despeito do sucesso do time no Brasileiro.
Ele dificilmente concede uma entrevista.
Esquerdo tem trauma de sequestros e, por isso, evita aparecer para a imprensa e impede que seus três filhos -Antônio, Fernando e Eduardo- façam o mesmo.
"Um vizinho nosso foi sequestrado e morto depois. Isso impressionou muito o meu pai", disse Antônio, se referindo ao sequestro do empresário Antônio Barril, este ano, no Tatuapé, em São Paulo.
Nem nas sete lojas Armarinhos Fernando é fácil encontrar Esquerdo. Ele passa os dias sempre em um dos estabelecimentos, mas se deixa confundir com os milhares de consumidores, que se espremem atrás de botões para camisas, baralhos, esmaltes, lingeries, ursinhos de pelúcias ou brinquedos.
As lojas vendem, literalmente, de tudo, há 20 anos.
Esquerdo nasceu em Mogadouro, Norte de Portugal, e chegou ao Brasil aos 15 anos, quando começou a sua paixão pelo time. Pouco tempo depois, ele já conseguiria um título de sócio do clube e, aos 35 anos, abriu sua primeira loja na rua 25 de março, em São Paulo.
Frequentador assíduo do estádio do Canindé, assim como os filhos, Esquerdo costuma fretar ônibus para torcedores e comprar ingressos para distribuir em dias de jogos da Portuguesa.
No meio deste ano, decidiu patrocinar o time. "A Portuguesa estava precisando de ajuda", disse.
*
Folha - Por que você decidiu patrocinar a Portuguesa?
Fernando dos Santos Esquerdo - Porque, após a saída do Frigoríficos Chapecó, o clube estava necessitando de um patrocinador.
Como a pedida dos diretores estava dentro dos meus limites, aceitei. Eu não esperava um grande retorno. Foi mais pela paixão.
Folha - Mas a divulgação do nome de sua empresa pela Portuguesa não aumentou os lucros?
Esquerdo - Não. As minhas lojas, felizmente, sempre estiveram lotadas de fregueses. A maioria compra para revender depois.
Se a frequência aumentasse em 20%, por exemplo, as lojas não comportariam. O patrocínio serviu para reforçar a marca da empresa. Quem não conhecia, passou a conhecer. É o ditado: podem até falar mal, mas falem de mim.
Folha - Após acertar o contrato de patrocínio, você esperava que o time chegasse tão longe no Campeonato Brasileiro?
Esquerdo - Ninguém esperava. Acho que nem os diretores da Portuguesa quando acertaram o contrato.
Mas o Armarinhos Fernando está mostrando que é pé quente.
Folha - Mesmo assim, a diretoria acena com a possibilidade de acertar um contrato de co-gestão com uma multinacional para o próximo ano. Você ficou sabendo disso?
Esquerdo - Eu li nos jornais, mas acho que é papo furado. Mas, se isso acontecer, tudo bem. Se tiver um outro que pague melhor que eu, melhor para a Portuguesa.
Eu acho, inclusive, que a união entre Palmeiras e Parmalat é o casamento perfeito.
Não vou concorrer com uma multinacional. Nem posso.
Folha - Na sua opinião, o time atual é um dos melhores da Portuguesa em todos os tempos?
Esquerdo - Eu acho que a Portuguesa sempre teve bons times. O problema é que ela era sempre roubada.
Depois desse Brasileiro, passei a achar que isso mudou.
Quem diria que deixariam a gente se classificar na última rodada, com São Paulo e Internacional sendo eliminados.
Folha - Você tem um bom relacionamento com os jogadores?
Esquerdo - Quase não nos vemos. O Capitão (volante) e o Caio (meia) vieram visitar uma das minhas lojas um dia desses.
Foi num momento em que a Portuguesa não ganhava de ninguém e estava na rabeira do campeonato.
Dei uma prensa neles e, coincidentemente, o time engrenou a partir daí rumo à classificação.
Folha - Além do contrato de patrocínio, você costuma premiar os jogadores em ocasiões especiais?
Esquerdo - Sim. Dei R$ 30 mil para eles dividirem pela classificação para as semifinais e costumo dar R$ 10 mil por vitória.
Folha - Você já pensou no prêmio pelo título brasileiro?
Esquerdo - Já. Mas não vou divulgar. Não é nenhuma fortuna, mas será um prêmio bom.
Folha - Você não gosta de falar sobre dinheiro. É o medo de ser sequestrado, como falam os seus filhos?
Esquerdo - Não quero que pensem que sou um milionário. Isso não é verdade. Não vou colocar a minha família em risco.
O que eu tenho hoje é fruto de muito trabalho e um pouco de sorte também.
É mais ou menos como a campanha da Portuguesa neste ano.

Texto Anterior: Seleção faz acordo com bolivianos
Próximo Texto: Time vai pagar R$ 5.000 por classificação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.