São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
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Torres de Niemeyer causam polêmica

FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília, está indispondo os dois criadores da capital: o arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa.
Sob encomenda da procuradoria, Niemeyer projetou duas torres circulares, de 38 metros e 48 metros cada uma, ambas com 60 metros de diâmetro. Serão erguidas atrás da praça dos Três Poderes, concebida por Lúcio Costa.
A praça fica na Esplanada dos Ministérios, onde os prédios têm altura máxima de 17 metros. A exceção é o prédio do Congresso, que tem cem metros.
"É uma brutalidade", reagiu o urbanista ao ser informado pela Folha sobre o projeto. "Acho que o Oscar perdeu a noção original da cidade", completou.
"O problema me pareceu tão estranho e improcedente que dele me recuso a participar", rebateu Niemeyer em depoimento lido para a reportagem da Folha.
O terreno no qual as torres serão erguidas já começou a ser preparado para a obra, com custo avaliado em cerca de R$ 50 milhões.
Além do desentendimento entre os dois parceiros mais famosos da arte moderna brasileira, as torres também geram polêmica entre os profissionais envolvidos na preservação de Brasília.
A capital federal foi tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade em março de 1990. Desde então, qualquer nova edificação no Plano Piloto da cidade precisa ter a aprovação dos órgãos que cuidam da preservação.
Em agosto deste ano, o projeto de Niemeyer foi encaminhado ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), passando a ser analisado pela CEB (Comissão Especial de Brasília).
As opiniões divergentes entre os integrantes da comissão fizeram com que ela simplesmente se eximisse de tomar qualquer decisão.
"Mesmo que os prédios sejam uma beleza, eles vão comprometer o conjunto da praça", afirma a arquiteta Maria Elisa Costa, filha de Lúcio Costa e integrante da CEB.
"Concordo com a obra, apesar de achar que ela será uma barreira visual", diz Marco Antônio Galvão, coordenador da CEB.
O projeto foi encaminhado diretamente para a presidência do Iphan, exercida pelo arquiteto Glauco Campello, amigo pessoal de Niemeyer. Ainda em agosto, Campello deferiu o projeto.
O projeto é bombardeado pelo Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios).
Um documento preparado pela representação da entidade no Distrito Federal afirma que "a visibilidade e a contemplação dos principais monumentos da cidade, que se destacam no sítio plano e sobrelevado da Praça dos Três Poderes e da Esplanada, ficariam afetadas se executado o projeto".

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