São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
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Livro quer 'recolocar' papa na história

FERNANDA GODOY
COORDENADORA DE REPORTAGEM DA SUCURSAL DO RIO

O jornalista norte-americano Carl Bernstein, 52, quer mudar a percepção do mundo sobre a personalidade do papa João Paulo 2º e seu papel na história com a biografia "Sua Santidade".
No Brasil para o lançamento do livro (editora Objetiva, 591 págs., R$ 37,80), escrito com o jornalista italiano Marco Politi, Bernstein definiu o papa como a maior figura do fim do século.
Bernstein se tornou conhecido ao formar com Bob Woodward a dupla de repórteres do "The Washington Post" que trouxe à tona o escândalo de Watergate, levando o presidente Richard Nixon à renúncia em 1974.
No livro lançado agora, ele tenta desvendar a "santa aliança" que teria sido formada entre os EUA e o Vaticano para derrubar o comunismo. Leia a seguir trechos da entrevista dele à Folha.
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Folha - Como o sr. espera que o seu livro "Sua Santidade" seja recebido no Brasil?
Carl Bernstein - Eu espero que o livro mude a compreensão dos brasileiros sobre aquele que considero ser a maior figura deste final de século.
Mas este não é um livro sobre o papa e a CIA. Nós falamos sobre o papel do papa na queda do comunismo e suas relações com Reagan. Mas é, sobretudo, a biografia de um homem que marcou nossa época como nenhum outro.
Folha - Quando o sr. decidiu escrever a biografia?
Bernstein - Em 92, Gorbatchov escreveu um artigo dizendo que "sem esse papa nenhum desses fatos (a queda do comunismo em vários países) teria acontecido". Foi aí que entendi que aquela era uma grande história.
Folha - Que importância o sr. atribui ao papel do papa na queda do comunismo?
Bernstein - O comunismo caiu por causa de suas contradições internas. Mas teria caído em 1989 sem João Paulo 2º, sem Reagan, sem o Solidariedade? Duvido muito. A Polônia se tornou um ponto crucial, num momento de fraqueza do comunismo e quando havia um papa polonês.
Havia uma população de 95% de católicos, unida em apoio ao Solidariedade. O Kremlin percebeu que não podia perder a Polônia. Mas, como não teve vontade ou capacidade de intervir militarmente, o caminho estava aberto.
Folha - Foi mais difícil investigar o Vaticano do que a Casa Branca?
Bernstein - Achei que ia ser como a Casa Branca: ia chegar lá, descobrir como o Vaticano funciona, o que o papa e seus assessores discutem nas reuniões. Errado. Só há uma reunião: é quando o papa se ajoelha para rezar.
Folha - As pessoas que o sr. ouviu foram abertas a respeito do papa, embora ele ainda viva?
Bernstein -Eu acredito que as pessoas gostem de dizer a verdade. São os repórteres que não lhes dão a chance de falar a verdade.

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