São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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Ativistas antiaborto ofendem deputados

RICARDO AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara que deveria votar o projeto que garante o atendimento público e gratuito ao aborto legal (casos de estupro e risco à vida da mãe) transformou-se em cenário de ofensas a deputados.
Integrantes do Movimento Pró-Vida, de orientação cristã, protestaram contra a proposta dos deputados petistas Eduardo Jorge (SP) e Sandra Starling (MG) atacando seus defensores.
O deputado José Genoino (PT-SP) teve seu sobrenome trocado por "genocídio", a deputada Marta Suplicy (PT-SP) foi chamada de "suplício" e a relatora da proposta na CCJ, Zulaiê Cobra (PSDB-SP), de serpente.
A origem das ofensas foi um livreto de 40 páginas, preparado pelo Pró-Vida, com afirmações e comentários sobre a atuação dos parlamentares nos temas relacionados ao aborto.
Uma das principais vítimas dos ataques, Genoino não se incomodou. Chegou até a se divertir com os textos, junto a colegas petistas.
"Se houvesse Inquisição, eu já estaria na fogueira", brincou. "Sempre achei que você tinha um ar mefistofélico", completou o petista Marcelo Déda (SE).
Ao final da reunião, Genoino saiu do plenário gritando: "Abaixo a Inquisição".
Projeto
O motivo da polêmica, o projeto de lei 20/91, prevê o atendimento na rede pública dos casos de aborto permitidos pelo Código Penal.
Na semana passada, o deputado Salvador Zimbaldi (PSDB-SP) pediu vistas e ontem apresentou um substitutivo, proibindo o aborto em qualquer circunstância.
Sua proposta prevê assistência do Estado à mulher vítima de estupro até o nascimento da criança. Caso a mãe não queira o filho, o Estado fica responsável por ele.
No caso de aborto voluntário, a pena de prisão poderia ser trocada por prestação de serviços à comunidade.
Os integrantes da comissão escolhem hoje entre o projeto original e o substitutivo de Zimbaldi.
Base em Anápolis
O Movimento Pró-Vida tem atuado especialmente na cidade de Anápolis (GO), a cerca de 120 quilômetros de Brasília.
Segundo Heloísa Helena Teixeira, chefe de gabinete da deputada Lydia Quinan (PMDB-GO), integrantes do grupo já tinham feito manifestações em outras votações e audiências ligadas à questão.
"Sempre de um jeito inflamado e usando termos obtusos", afirmou Teixeira. O grupo fez oposição à candidatura da deputada à vice-prefeita de Anápolis porque em votação passada ela foi contra a restrição do aborto legal.

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