São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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Comer, matar, viver

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Frenesi" (USA, 14h) tem a cara de Hitchcock, embora seja quase um filme atípico.
Primeiro, os assassinatos que ocorrem em Londres, e que são seu objeto, ocorrem na zona do mercado. Esse aspecto gastronômico não é inconsequente.
A prova virá mais tarde, quando o inspetor Oxford praticamente matará a charada sobre quem é o assassino à mesa, enquanto ouve os palpites de sua mulher sobre o assunto e experimenta a "continental food" que ela prepara.
No mais, come-se como se mata em "Frenesi". As pessoas (mulheres) aparecem mortas como se isso fizesse parte de uma espécie de rotina. Ou então se mata como quem troca de roupa. E com uma peça de vestuário (a gravata).
Os gestos mais banais do ser humano -os gestos de sobrevivência, como comer e se vestir- são, assim, os mesmos que anunciam a morte.
Isso não é absolutamente novo em sua obra. Mas o humor, que era uma área de escape na maior parte de seus filmes, aqui aparece como um objeto lançado entre outros.
Porque o segredo de "Frenesi" talvez consista em nos dar a impressão de um filme feito quase ao acaso, por prazer, em que Hitchcock esqueceu o sólido sentido de estrutura que caracteriza seu cinema. Mas, no fim das contas, não há um só fotograma lançado ao acaso.
(IA)

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