São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996 |
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"Morte de Georges Duby é o fim de modelo"
LUIZ ANTÔNIO RYFF
Essa é a opinião do professor François Dosse, 46, um dos mais renomados historiadores franceses da nova geração. Para Dosse, Duby -que morreu de câncer anteontem- renovou o olhar sobre a Idade Média. Leia a seguir trecho da entrevista, concedida à Folha por telefone, de Paris. * Folha - Qual a dimensão da morte de Duby para a historiografia? François Dosse - Ele é importante não só por ter renovado o olhar sobre a Idade Média, mas também por ser um dos últimos, senão o último, representante de uma história global (conceito usado em oposição à "história em migalhas", que privilegia um aspecto específico da história). Em sua obra, Duby tocou todos os domínios da história, a econômica e social, a história da arte ligada à sociedade, a história das mulheres, até o estudo do imaginário na Idade Média. E sempre esteve consciente de que a história tem uma dimensão científica mas é próxima de um gênero literário. Folha - O sr. é crítico em relação à escola dos "Annales". Em que momento o sr. situa Duby? Dosse - Duby reclama para si a continuidade de (Fernand) Braudel, então ele seria mais ligado à segunda geração, que ainda é fiel à noção de história global. Mas ele é dono de uma escrita de história diferente da de Braudel, mais aberta a uma aspiração literária, à cultura, enquanto Braudel sempre foi hostil à história das mentalidades (que faz uma reconstrução da vida cotidiana). Braudel era mais ligado a uma geoeconomia. Mas os dois mantinham convergências, como a idéia de história global e um passado comum. Duby começou estudando geografia, o que marcou o início de seu trabalho. No aspecto etário Duby era próximo da terceira geração, de Le Roy Ladurie. Em "História em Migalhas" (sua análise da escola dos Annales) eu critiquei a desconstrução representada por Roy Ladurie. Mas em nenhum momento critiquei Duby. Para mim, Duby representava o modelo de escrever a história. Folha - Com a morte de Duby, resta um outro grande medievalista, o francês Jacques Le Goff. Que comparação é possível fazer entre o trabalho dos dois? Dosse - Há uma grande proximidade entre o trabalho de Le Goff e Duby. Mas Le Goff tem um comportamento de homem de poder, como membro do comitê de direção da Escola dos Annales. Seu posicionamento mostra a preocupação de defesa de um grupo. Duby estava longe disso. E ele também vai mais longe na junção entre ciência e literatura. Folha - A importância de Duby é mais forte no âmbito acadêmico ou leigo, pelo seu trabalho de popularização da história? Dosse - Ele teve os dois papéis, na renovação da forma de olhar a Idade Média e na preocupação em mediatizar seu trabalho, tanto que dirigiu um canal cultural de TV. Seu estilo quase literário, fruto da preocupação em fazer passar a informação para um público não especialista, também contribuiu para a popularização da história. Texto Anterior: Gidon Kremer toca Astor Piazzola erudito Próximo Texto: Canal de História estréia no sábado Índice |
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