São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
Próximo Texto | Índice

Só pesquisa de 97 confirma água na Lua

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim como a visão de um oásis no deserto pode ser apenas uma miragem, a existência de um lago de água congelada na Lua pode ser apenas uma espécie semelhante de ilusão óptica dos radares da sonda espacial Clementine que detectaram o gelo.
A descoberta foi feita baseada em medidas indiretas, na análise detalhada de sinais de radar. Apenas com o lançamento da sonda espacial Lunar Prospector em outubro de 1997 será possível checar com certeza a existência de água, através de outro instrumento, um "espectrômetro de nêutrons", capaz de detectar o hidrogênio, componente químico do líquido.
Apesar disso, os cientistas estão confiantes, pois os sinais de radar encontrados são semelhantes aos que foram enviados por gelo em outros pontos do Sistema Solar.
"Nós conhecemos bem esse tipo de assinatura-radar, feito em planetas onde nós sabemos por outros meios que existe gelo", disse ontem por telefone à Folha um dos responsáveis pelo programa da sonda Clementine, Dwight Duston, que dirige a área de tecnologia da BMDO (sigla em inglês da Organização para Defesa contra Mísseis Balísticos).
"Guerra nas Estrelas"
A BMDO faz parte do "Guerra nas Estrelas", programa que incluía o estudo da colocação de radares em órbita para detecção de ataques de mísseis balísticos.
Nem todos os instrumentos da sonda Clementine, lançada em 1994, tinham condições de fazer medidas das regiões polares da Lua. Além disso, a região polar permaneceu em escuridão durante boa parte da missão da sonda. Para fazer medidas, foi necessário fazer um mapeamento dito "ativo", isto é, com radar.
"O gelo está em uma cratera profunda, onde a luz do Sol não entra", diz Duston. Seria um pequeno lago, com algo entre meio a um quilômetro cúbico de água.
O experimento que revelou a possível água valeu-se de uma técnica de radar sofisticada, na qual o transmissor fica na sonda mas a recepção do eco dos feixes de rádio é feita na Terra, nas antenas da Rede do Espaço Profundo da Nasa.
"Nós fizemos imagens em vários pontos da superfície lunar. Quando o feixe de radar estava direcionado com o pólo, veio a diferença", diz Duston.
A equipe de pesquisa do experimento foi chefiada por Stewart Nozette, do Laboratório Phillips, da Força Aérea dos EUA. A descoberta foi publicada na revista científica "Science".
Eles acreditam que esse gelo deve ser principalmente água, e não dióxido de carbono ou metano ou outra substância química.
Dados das missões Apollo da década de 70 excluem a possibilidade da água estar presente nas rochas lunares; mais provável seria a "contaminação" pela água de um cometa, um tipo de corpo celeste composto principalmente de água, como já foi demonstrado.

Próximo Texto: Columbia volta à Terra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.