São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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Viva a morte!

JUCA KFOURI

Muito bem, a seleção brasileira está com todos os seus problemas financeiros resolvidos até o ano 2006. De fato, não é pouca coisa.
Com uma certa má vontade alguém poderá dizer que o time de futebol do Brasil é dos mais fáceis de serem vendidos. Afinal, em regra, é o melhor no esporte mais popular do mundo.
Mas seria injusto tirar o mérito da CBF nesta negociação, por mais que não seja a entidade a responsável pelo brilho da seleção mas, sim, os jogadores que nascem por aqui.
A questão, no entanto, nem é essa. A questão que interessa discutir é como os clubes serão beneficiados pelos aludidos R$ 40 milhões anuais (que na verdade não são, como demonstra a reportagem de Mário Magalhães) que a Nike pagará à CBF. A resposta é simples: não serão. E é aí que o carro pega.
A CBF é dona de apenas um time no país, a seleção, e é dela que tem de cuidar.
Mas, pequeno detalhe, a seleção existe só porque os clubes fornecem jogadores para que seja formada.
A CBF nada em dinheiro, e os clubes vivem de pires na mão. É justo?
Não responda ainda. Responda antes, e rápido, por favor: se é verdade que a griffe CBF é valorizadíssima mundo afora, aqui no Brasil o que vale mais: CBF ou Flamengo? CBF ou Corinthians? CBF ou Grêmio? e assim por diante.
Pois nossos clubes, vale repetir, que são a razão de ser da CBF, não estão nem sequer perto de fazer negociações como essa que a CBF acaba de realizar.
Será preciso reafirmar que os clubes precisam criar uma entidade que cuide mais de seus interesses, uma liga nacional, deixando a CBF para cuidar apenas do time dela?
Saiba, então, que meses atrás a IMG, a maior empresa de marketing esportivo do mundo, estava disposta a pagar mais pelo Campeonato Brasileiro do que a Nike pagará à CBF. O negócio não prosperou simplesmente porque, no contato inicial, ficou óbvio para a CBF que seu poder sobre os clubes iria para o espaço.
Os homens da IMG ainda não desistiram e estão chegando agora dispostos a conversar com clube por clube. Não imaginam, no entanto, que dificilmente encontrarão interlocutores à altura.
Porque os cartolas "amadores" dos clubes a tudo vêem calados, imobilizados, cúmplices.
Viva a CBF! Morte aos clubes!

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