São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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'Anjos' tem mediocridade incomum

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os Anjos da Guarda", de Jean-Marie Poiré, é uma comédia antiga.
Mas que não se espere a graça e a ingenuidade de um outro tempo. Antigo, para mais esse ocaso do cinema francês, significa apenas decrépito.
A situação de onde se pretende extrair o riso é a seguinte: um homem deve resgatar -em Hong Kong- o filho menor de seu melhor amigo, que é perseguido pela máfia local.
Para levar a criança a Paris, ele se envolve com um padre, a quem engana e chantageia de todas as formas. E, claro, ele só fará isso em troca de milhões de dólares envolvido em toda a história.
Por que deveríamos gargalhar em torno disso?
Porque há Gerald Depardieu no papel principal (a estrela), a bela atriz Eva Grimaldi (a namorada burra da estrela) e Christian Clavier (o cômico popular), em situações que opõem sexo e religião.
Rapidamente somos desobrigados da exigência. Nada funciona. A estrela não se salva, a bela é envelhecida e o humorista tem uma atuação sem empolgação.
Estabelecida essa verdade, resta então então o enigma: como "Os Anjos da Guarda" se tornou a maior bilheteria francesa de 1995, estando também entre as maiores da história do cinema francês?
A França vive a decadência. Um cinema tão -positivamente- nacionalista perde a cada temporada espaço para as produções norte-americanas de todos os gêneros e, entre eles, a comédia.
"Os Anjos" oferece aos franceses o que eles esperam encontrar apenas nos produto hollywoodiano: a esquizofrenia materializada na correria desenfreada, na ação sem propósito e no erotismo desconfortável de uma sociedade de puritanos por formação.
Jean-Marie Poiré imita seu inimigo e acaba provando que este, ao menos para certas coisas, tem um talento insuperável.

Filme: Anjos da Guarda
Produção: França, 1995
Direção: Jean-Marie Poiré
Com: Gerard Depardieu e Eva Grimaldi
Cinemas: Bristol, Olido e circuito

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