São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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Culpados e coniventes

VALDO CRUZ

Brasília - Congresso e governo têm sua parcela de culpa no mais novo escândalo envolvendo a famigerada Comissão de Orçamento.
A denúncia de que o líder Pedrinho Abrão (PTB-GO) tentou cobrar comissão da empreiteira Andrade Gutierrez é apenas um reflexo dessa quase conivência.
Logo depois da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Orçamento, que cassou seis parlamentares e levou quatro à renúncia (todos acusados de envolvimento em corrupção), o Congresso tinha um consenso: era preciso modificar as regras de funcionamento da comissão que analisa o Orçamento Geral da União.
Hoje, dois anos depois do último escândalo, tudo continua como antes. A promessa de acabar com as emendas individuais dos parlamentares, por exemplo, foi abandonada.
Deputados e senadores continuam manipulando como querem uma parcela do dinheiro da União. Daí surge não um Orçamento voltado para as necessidades do país, mas um mar de projetos de interesses paroquiais.
O governo, por seu lado, diz que é contra essa prática, mas a utiliza como uma moeda de troca com os parlamentares.
Agora mesmo, os deputados estão pressionando o governo a aumentar a verba das emendas individuais de R$ 1,5 milhão para R$ 20 milhões. Em troca, garantem o voto na reeleição.
Os parlamentares gostam de ressaltar que essa verba não vai para o seu bolso, mas para projetos nos Estados.
Só que muita gente destina esse dinheiro para obras tocadas por empresas que financiaram ou vão financiar sua campanha eleitoral.
Pouco importa se o projeto é bom ou ruim. O que importa é pagar uma dívida de campanha ou garantir uma caixinha no futuro.
É claro que existem exceções. Cabe a essa turma liderar uma campanha contra a bandalheira do Orçamento da União, para que o Congresso não caia novamente em descrédito.
E ao governo, pôr fim no uso do dinheiro público como moeda política.

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