São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Brasil e mundo discutem US$ 6,1 tri

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

Conferência da OMC começa amanhã, em Cingapura, com divergências entre os países participantes

Mundo debate normas para US$ 6,1 tri
Imagine tudo o que o Brasil produz de riquezas por ano, de automóveis a alfinetes, de Big Macs a café. Multiplique por nove. É mais ou menos esse o valor (cerca de US$ 6,1 trilhões) que estará em jogo, a partir de amanhã, na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio.
A reunião de ministros é a principal instância decisória dessa organização, integrada hoje por 127 países, que há dois anos se transformou no xerife do comércio internacional, o grande dínamo econômico dos tempos modernos (ver quadro na pág. 2-4).
Por isso mesmo, Cingapura, sede da conferência, vai receber cerca de 4.000 delegados, que pertencem não apenas aos países-membros, mas também aos candidatos a ingresso (são 30, entre eles gigantes como China e Rússia), ao empresariado e às ONGs (Organizações Não-Governamentais), hoje presenças obrigatórias em qualquer evento internacional.
Tal volume de riquezas posto sobre a mesa explica, em grande parte, o fato, raro em eventos do gênero, de não se ter conseguido, nos encontros preparatórios, fechar o documento que os ministros (entre eles três do Brasil) assinarão.
Há divergências de todo tipo, entre ricos e pobres, entre ricos e ricos e entre pobres e pobres.
Natural. A Rodada Uruguai, encerrada em 1994, depois de oito anos de negociações, produziu a mais formidável liberalização comercial da história, ainda em fase de assimilação.
Derrubando fronteiras
Um estudo do Banco Mundial, editado no ano passado, dá bem a medida das transformações ocorridas: até 1978, cerca de um terço da população ativa do mundo vivia nos fechados países comunistas. Outro terço vivia em países fracamente ligados às trocas internacionais em consequência de barreiras protecionistas.
"Se as tendências atuais se mantiverem daqui até o ano 2000, menos de 10% dos trabalhadores viverão em países muito afastados dos mercados mundiais", conclui o estudo.
É basicamente disso que trata o encontro de Cingapura: prosseguir na derrubada das fronteiras comerciais ou dar uma freada.
Para o italiano Renato Ruggiero, diretor-geral da OMC, a divergência é nítida: "Algumas delegações não desejam modificar os compromissos já assumidos ao concluir a Rodada Uruguai e preferem manter o horizonte temporal dos anos 1999 ou 2000. Outras sugerem que se considere a possibilidade de incluir reduções tarifárias aceleradas ou adicionais".
O governo brasileiro alinha-se entre os que preferem tomar fôlego antes de novas aberturas.
"Tendo feito as aberturas determinadas pela Rodada Uruguai e também pelo acordo do Mercosul, não podemos submeter o país a um novo choque liberal", diz o chanceler Luiz Felipe Lampreia.
Mas o governo dos EUA chega a Cingapura com uma lista de áreas em que reivindica liberalização maior, desde produtos de madeira à indústria da informática.

LEIA MAIS sobre a OMC nas págs. 2-3 e 2-4

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