São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O vôo pioneiro sobre o Atlântico

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAÚ

João Ribeiro de Barros é um herói esquecido no Brasil. Há 70 anos, ele iniciava a primeira travessia aérea da Europa para a América, cruzando o Atlântico com o hidroavião Jahu.
Hoje, poucos brasileiros lembram a sua aventura, que o tornou, na época, um personagem conhecido em todo o mundo.
Renato Sampaio de Almeida Prado, 73, primo de Barros, afirma que foi o comandante quem inspirou o americano Charles Lindberg a fazer a travessia do Atlântico Norte (Nova York/Paris) com o avião Spirit of St. Louis. Lindberg realizou a viagem entre 20 e 21 de maio de 1927, 23 dias após o comandante João Ribeiro de Barros chegar ao Brasil, pousando, em 28 de abril de 1927, no arquipélago de Fernando de Noronha.
A paixão de Barros pela aviação começou em 1919, 13 anos depois de Santos Dumont inventar o avião e fazer o primeiro vôo, na França, com o 14 Bis.
Segundo Antônio Musitano Rosa, autor do livro "Itália-Brasil -Travessia do Atlântico Sul em Hidroavião", Barros teve o apoio da família quando decidiu abandonar o curso de direito para ir estudar pilotagem nos EUA. Quatro anos mais tarde, ele conseguiu a habilitação aeronáutica e começou a colocar em prática o plano de cruzar o Atlântico com um avião.
Em 1926, Barros montou a equipe, formada pelo co-piloto Cunha, o navegador Newton Braga e o mecânico Vasco Cinquini. Viajou, em seguida, para a Itália, onde comprou o hidroavião Alcyone.
Rosa diz que o avião foi reformado para permitir viagens de longo percurso e rebatizado com o nome Jahu em homenagem à cidade onde o piloto nasceu.
Barros só divulgou seu plano de viagem na véspera da partida, em Gênova, Itália. "A notícia causou sensação internacional", afirmou.
No dia 17 de outubro de 1926, o avião levantou vôo com destino a Gibraltar, primeira escala.
O Jahu fez pousos de emergência em Dênia e Alicante, na Espanha. Barros e equipe foram presos na Espanha, onde não tinham ordem para pousar. Foram liberados por interferência da embaixada do Brasil em Madri.
No dia 19 de outubro, o Jahu levantou vôo para Gibraltar. Ao fazer a manutenção na aeronave, o mecânico descobriu que o hidroavião fora sabotado na Itália. O combustível estava misturado com terra, sabão e água.
"Na época, houve muitos rumores a respeito da sabotagem", conta Almeida Prado.
A viagem foi reiniciada em 25 de outubro, com destino às Ilhas Canárias (África). No percurso, o motor voltou a apresentar problemas e falhar. Surpresa: o mecânico encontrou um pedaço de bronze entre as engrenagens do motor, mais um indício de sabotagem.
Nas Canárias, Barros expulsou Cunha, que se rebelara e tentara assumir o comando do Jahu.
A esta altura, o comandante pensou em desistir da aventura. Só não o fez porque sua mãe, Margarida Ribeiro de Barros, lhe mandou um telegrama dizendo que o ajudaria a superar as dificuldades.
A viagem foi retomada em 28 de abril de 1927, com novo co-piloto. Após 14 horas de vôo, o Jahu vai das Canárias ao arquipélago de Fernando de Noronha. Barros morreu aos 47 anos devido a complicações no fígado, resultado da malária contraída nas Canárias.

Texto Anterior: A poesia vital de Lina Bo Bardi
Próximo Texto: Família quer bens de volta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.