São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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O papa e a teoria da evolução

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

João Paulo 2º enviou mensagem aos cientistas que participavam de uma reunião da Pontifícia Academia de Ciências para debater a origem da vida. Reafirmou ele que a evolução é uma teoria e não uma hipótese, como afirmava Pio 12 em "Humani Generis", em 1950. Disse ele que a encíclica de Pio 12 "considerava o evolucionismo como uma hipótese séria, que merece investigação mais profundamente estudada (...). Hoje (...) novo conhecimento leva-nos a reconhecer que a teoria da evolução é mais do que uma hipótese".
Pio 12, comenta a revista "Time", era cético quanto à evolução, porém tolerava seu estudo e debate, mas o pronunciamento de João Paulo 2º reflete a aceitação da igreja quanto à evolução.
João Paulo 2º não divergia, entretanto, de Pio 12 quanto à origem da alma humana, que vem de Deus, mesmo que "o corpo humano seja procurado em material vivo que existiu antes dele".
Indagado pela revista sobre a manifestação papal, o padre Peter Stravinskas, coordenador da "Catholic Encyclopedia", disse que é "essencialmente o que Santo Agostinho escreve".
Ele diz que não devemos interpretar o Genesis literalmente, e que o Genesis é linguagem poética e teológica. Resumo do pensamento científico de João Paulo 2º foi feito por Newton Freire-Maia em seu livro "Criação e Evolução".
O professor da Universidade Federal do Paraná diz que o papa João Paulo 2º reafirma a ampla liberdade da investigação científica; reconhece, como Pio 12, a existência de gêneros literários diversos na Bíblia e a resultante necessidade de formas diferentes de interpretação; lembra os sofrimentos de Galileu e as "intervenções indébitas" da igreja junto à pesquisa científica em consequência da insuficiente informação sobre a "legítima autonomia da ciência" e, finalmente, o que me parece extraordinariamente importante, afirma que a religião precisa da ciência para que a ciência a purifique da "concepção mágica do mundo" e das "sobrevivências supersticiosas", e que a "revelação divina (...) não comporta, per se, nenhuma teoria científica do Universo".
A igreja se beneficiou da ciência, diz ele. Esse resumo baseou-se, por sua vez, em discursos de João Paulo 2º, o qual o autor comenta.
João Paulo 2º evitou falar sobre um ponto a cujo respeito Pio 12 foi enfático: a posição de Adão como ancestral da humanidade, porque outra interpretação qualquer colidiria com a doutrina do pecado original. Mas, acrescenta a "Time", baseada nas palavras do padre Richard P. McBrien, essa doutrina a respeito da origem humana em Adão também está superada: "nenhum especialista nas Escrituras diria hoje que literalmente descendemos de duas pessoas".

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