São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Aumenta suicídio de policiais na França

BETINA BERNARDES
DE PARIS

O aumento no número de casos de suicídio de policiais nos últimos dois anos na França pode estar ligado aos atentados de 95 e à ação do plano de segurança Vigipirate.
É o que disse à Folha Pierre-Henri Ceccaldi, médico chefe da Direção Geral da Polícia Nacional.
Até sexta-feira passada, 68 policiais haviam se matado no país este ano. Em 95, foram 62, contra 35 em 94. A média de casos anuais até então era de 40, segundo Ceccaldi.
O médico elaborou em 92 um relatório sobre o assunto e é figura-chave para a implantação, determinada pelo governo, de um plano de apoio de prevenção ao suicídio entre policiais.
Estudando os mais de cem casos registrados de 87 a 91, Ceccaldi chegou a um perfil estatístico do policial que comete suicídio.
É aquele que trabalha nas ruas, tem em média 40 anos de idade, em 80% dos casos usa a arma de serviço para se matar, tem problemas sentimentais e materiais, como dívidas de dinheiro e brigas familiares, e possui antecedentes psicopatológicos.
Na semana passada, a cúpula da Polícia Nacional foi a Montbéliard, cidade de 30 mil habitantes no leste do país, para entender por que 4 de seus 167 policiais se mataram neste ano.
O último caso, em novembro, foi o de um jovem policial de 28 anos, que fazia faculdade à noite e não tinha passado de crises depressivas ou problemas de alcoolismo.
Montbéliard foi o único comissariado, dos 469 existentes na França, em que houve mais de um caso de suicídio em 96, segundo informou à Folha Bernard Vingdeux, comissário de divisão e conselheiro técnico da DGPN.
Por que uma cidade de interior teria um número tão elevado de casos? "É um ato pessoal e voluntário. Os dois primeiros casos eram de pessoas com intensos e conhecidos problemas pessoais. Mas o desse jovem, quem poderia esperar?", diz Ceccaldi.
A direção da Polícia Nacional ouviu, nos relatos feitos em Montbéliard, que problemas com um superior hierárquico local, tido como muito duro, poderiam ter influenciado nos casos.
Como policiais de toda a França, os de Montbéliard também se queixam da falta de apreço social por sua função.
"Eles dizem: 'Queremos nossa honra'. O policial francês tem o sentimento de que é agredido e que não é querido pela sociedade, e isso o deprime", diz Ceccaldi.
Para o médico, 95 foi um ano especialmente difícil para os policiais. Em julho, houve o primeiro grande atentado a bomba, em que oito pessoas morreram.
O plano Vigipirate, que permite ao governo tomar uma série de medidas excepcionais para garantir a segurança, entrou em ação.
Pelo plano, militares podem ser mobilizados para patrulhar as ruas, e férias e folgas dos policiais podem ser canceladas.
"Foi muito traumático. Os policiais se viram no meio de atentados e do Vigipirate, trabalhando um número de horas consideráveis e sem tirar férias por muito tempo", diz Ceccaldi.
"Não me surpreende a concentração de suicídios que houve no primeiro semestre de 96. Some a tudo isso uma forte divulgação pela mídia de casos de suicídios de policiais. Acredito muito na influência que a divulgação desses atos exerce nas pessoas", afirma.
O plano de apoio aos policiais que será posto em prática no ano que vem é o primeiro previsto em lei que leva em conta uma série de disposições individuais concernentes à profissão de policial.
Prevê um check-up sistemático dos funcionários e convênios para atendimentos psicológicos ou psiquiátrico. Também vai estimular o convívio social dos policiais, com reuniões e festas.

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