São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Série começa com dupla do barulho

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Melhor mesmo seria abrir esta coleção de chanchadas pela antologia "Assim Era a Atlântida" (1974).
Carlos Manga selecionou ali alguns dos melhores momentos do gênero. A idéia é chupada direto de "Isto É Hollywood", coletânea que, pouco tempo antes, ressuscitara o interesse pelos musicais da Metro.
Ou seja, "Assim Era a Atlântida" retoma uma rota frequente na chanchada: partir do sucesso americano e replicar à brasileira.
É em parte o caso de "A Dupla do Barulho", de 1953, que inaugura a coleção contando, em linhas gerais, a história da dupla Oscarito/Grande Otelo, que, juntos, fizeram uma dezena de filmes.
Seu eixo é o racismo. Otelo é Tião, o subalterno que o acaso eleva à condição de parceiro de Tonico (Oscarito). A dupla faz enorme sucesso.
Até aí, estamos na seara típica do musical hollywoodiano pré-Arthur Freed (o grande produtor da Metro): uma comédia em torno do próprio meio do "show business".
Tião, no entanto, sente-se desconfortável na condição de número dois da dupla. É o início de um descaminho com lances frequentemente melodramáticos.
O filme foi a primeira direção de Manga, e em vários momentos percebe-se o talento e o "savoir faire" que se mostrariam mais plenamente em "O Homem do Sputinik" e no notável "De Vento em Popa" (ambos na coleção).
O talento da dupla também está lá, ainda que, do ponto de vista cômico, Grande Otelo continuasse subutilizado (aliás, o "plot" gira em torno da incapacidade de dar vazão plena a seu humor). O ponto fraco dessa chanchada não carnavalesca é o roteiro, apressado, banal e precariamente estruturado, como quase sempre nas chanchadas.
Por isso, ou apesar disso, "A Dupla do Barulho" ilustra bem a idéia de Paulo Emilio sobre a incapacidade nacional para a imitação. Por mais que se quisesse copiar Hollywood, o resultado é, para o bem e para o mal, um precioso mergulho no Brasil, no humor carioca e, no caso, no nosso entranhado racismo.
(IA)

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