São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Belgrado enfrenta 20º dia de protestos

Suprema Corte nega recurso contra anulação de eleições

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de 100 mil manifestantes ocuparam ontem as ruas de Belgrado no vigésimo dia de protestos contra o governo do presidente socialista Slobodan Milosevic.
No sábado, mais de 200 mil pessoas protagonizaram nas ruas da capital sérvia a maior manifestação contra Milosevic no país.
Houve protestos também em outras cidades da Sérvia. Na cidade industrial de Nis (sul), cerca de 40 mil pessoas saíram às ruas.
"Viva a liberdade", gritou o ex-ministro da Cultura da França Jack Lang, que participou das manifestações junto com outros intelectuais franceses.
O governo sérvio proibiu a entrada no país de um grupo de intelectuais franceses convidados a participar das manifestações.
O líder da aliança oposicionista Zajedno ("Unidos"), Vuk Draskovic, faz um apelo à nação para que mantenha os protestos de rua a fim de criar "um levante geral e pacífico" que force o presidente Milosevic a renunciar.
Decisão judicial
No sábado, a Suprema Corte rejeitou os recursos a favor do reconhecimento da vitória da oposição nas eleições municipais de novembro, anuladas pelo governo.
Na votação de novembro, a aliança Zajedno venceu em 15 das 18 principais cidades da Sérvia, incluindo a capital, Belgrado.
Goran Draganic, líder do Partido Democrático, que faz parte da aliança, disse que a decisão é uma expressão da vontade política do regime e significa o fim do estado de direito na Sérvia.
Cinco dos trinta e seis juízes da Suprema Corte protestaram contra interferências do governo sobre o Judiciário.
Slobodan Vucetic, juiz do Tribunal Constitucional da Sérvia, afirmou que a exigência da oposição é legítima, ainda que o processo de destituição de Milosevic possa ser "rigoroso e difícil".
A destituição do presidente teria de ser apoiada por dois terços do Parlamento, no qual o partido governista tem a maioria.
Instabilidade
Para Draskovic "Milosevic é fator de desequilíbrio nos Bálcãs, e não de estabilidade, como consideram alguns países ocidentais".
O líder oposicionista alertou os governos ocidentais para que "estejam seguros de que Milosevic está preparando um derramamento de sangue, o que prejudicaria os acordos de paz de Dayton".
Draskovic também advertiu para a "romenização" da Sérvia, referindo-se à concentração do poder mantida pelo ditador romeno Nicolau Ceausescu e sua mulher.
A oposição acusa Milosevic e sua mulher, Mirjana Markovic, líder do partido neocomunista União da Esquerda Iugoslava, de "monopolizar o Tribunal Supremo, a polícia e a televisão, como o casal Ceausescu fez na Romênia".
"Não somos vítimas de uma ditadura de partido único, mas de uma ditadura de cama única", afirmou Draskovic.

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