São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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A ESFINGE DA VALE

O recuo do governo ao adiar o início da privatização da Companhia Vale do Rio Doce é bom ou ruim? Para muitos analistas, todo recuo é negativo. Para os bons estrategistas, às vezes é prudente e aconselhável recuar um passo para depois conseguir avançar dois ou mais.
Há pelo menos duas semanas tornou-se claro que o debate sobre a privatização da Vale estava sendo irreversivelmente contaminado pelas negociações em torno da emenda que permitiria a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. É péssimo que isso ocorra. Mas é admissível o recuo do governo se isso significar uma forma de desvincular privatização de reeleição, sem colocar em jogo o compromisso com a primeira.
Apenas "a posteriori", evidentemente, será possível saber se esse compromisso e aquela desvinculação de fato foram garantidos. Hoje o que se vê é apenas o recuo.
Há porém um indício de que o passo atrás seja somente tático e não chegue a comprometer a estratégia: trata-se da reação do governo contra as propostas de usar a pulverização das ações como forma de privatizar a Vale. Aceitar, depois de um longo processo de formulação, que o modelo de privatização fosse rediscutido significaria adiar por vários meses a venda da estatal. Ao rechaçar a proposta, o Executivo mostra determinação em proceder à desestatização sem demoras ainda maiores.
É aliás importante reconhecer que o governo, demonstrando flexibilidade, tem aberto frentes de negociação política com o objetivo de preservar os benefícios regionais que a empresa supostamente oferece.
O mais temerário, entretanto, é o risco de chantagem em meio às pressões legítimas. O governo federal já trabalha a todo vapor na articulação em favor da emenda da reeleição. É inaceitável colocar a privatização da Vale como moeda de troca nessa negociação. Em poucos meses, será possível saber se a esfinge da privatização da Vale foi decifrada ou se ela devorou seus defensores.

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