São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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Show do artista é amplo e democrático

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Arnaldo Antunes ampliou seu público, resultado da fusão de ritmos pátrios e não de seus trabalhos recentes.
Foi o que se viu na estréia do show novo, no Sesc Pompéia, em São Paulo.
Sentadinhas na primeira fileira, crianças bem-comportadas. Aos cantos, adolescentes desvairadas que conheciam as músicas de cor -e se excitavam a cada solo de guitarra de Edgard Scandurra.
Na platéia, casais grisalhos e a geração balzaquiana que se criou com Arnaldo. Ah, sim, alguns malucos pulavam ao estilo punk por entre as crianças. Por vezes, era ele, Arnaldo, quem vinha à platéia pular e cantar.
Há algo de inédito em misturar públicos diversos, especialmente em se tratando do segmentado mercado musical brasileiro.
A dedução imediata: a qualidade do trabalho do compositor que surgiu na "new wave", embarcou na aventura "porrada" com os Titãs e agora imprime uma implosão na unidade sonora, fazendo cooper entre o samba, o reggae, o rock, o indefinível e o silêncio.
Há muito mais a falar sobre o show, como o vídeo de Tadeu Jungle e Walter Silveira, que foram incorporados ao cenário, ou como a brincadeira com a platéia em "Silêncio", música da parceria Arnaldo Antunes-Carlinhos Brown.
Arnaldo não é mais titã -nenhuma música do seu tempo de titã está no repertório do show. Mas, usando seu estilo, "não é, mas pode ser que seja".
Dança como um robô-marionete, usa o cabelo raspado nas laterais, sua marca registrada, e abusa da voz potente e rouca para cadenciar sua poesia.
Mas Arnaldo não conforta o público com os hits de seus tempos de antes e apresenta uma coletânea dos novos tempos, ou melhor, dos CDs solo: "Nome" (1993), "Ninguém" (1995) e "Silêncio" (1996).
Solo, numas. A presença marcante daquele que já foi chamado de o melhor guitarrista do Brasil (Scandurra) e a do estudioso Paulo Tatit, ambos na banda, completam o pacote.
Uma banda de músicos excelentes dá no quê? No improviso, nos solos e nos arranjos ousados, como os de "Juízo Final" (Nelson Cavaquinho e Elcio Soares) e "Judiaria" (Lupicínio Rodrigues).
O show é porrada e silêncio, é poesia pauleira, é brasileiro e global, é performance e música. O que é o show? É o que se espera e é surpresa. "É e não é".

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