São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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EXPLORAÇÃO PELA DROGA

O interior do Estado de Pernambuco abriga uma escandalosa situação à qual as autoridades locais parecem assistir com uma irresponsável passividade. Cerca de 20 mil trabalhadores recrutados pelos produtores de maconha passam meses como verdadeiros prisioneiros de seu trabalho, ilegal, mas tolerado na região.
Os responsáveis pelas lavouras de maconha aliciam homens que são obrigados a servir a um código de silêncio imposto pelo tráfico. Além de trabalhar nas plantações, são transformados em seguranças das fazendas, protegendo com armas a propriedade. Se tentam fugir, podem ser mortos por traficantes ou financiadores do plantio da droga.
O próprio delegado do município de Cabrobó (PE) afirma que "todo mês" um agricultor é assassinado na região simplesmente porque abandonou a lavoura de maconha e foi para a cidade. Tal constatação, se mostra que as autoridades estão conscientes da gravidade do problema, evidencia que as mesmas não estão realmente dispostas a combatê-lo.
Os assassinatos geralmente não têm sua motivação esclarecida, já que poucos na região têm coragem de falar sobre o assunto. A polícia, quando passa próximo às fazendas que comprovadamente plantam maconha, sente-se acuada, com medo de se tornar alvo de produtores e traficantes que dominam a área.
Identificar terrenos em que é plantada a maconha, principalmente numa região onde a atividade existe em larga escala, não é uma difícil tarefa. O problema é a falta de ação posterior do poder público, apático diante de um quadro que geralmente mistura falta de recursos, conivência e subordinação a interesses espúrios.
A Polícia Federal afirma estar desenvolvendo um programa para quebrar a estrutura dos cartéis do chamado "Polígono da Maconha", em Pernambuco. Espera-se que seja posto em prática de forma efetiva. Consolidados como estão, o plantio e o tráfico de maconha no Nordeste alimentam um trágico ciclo de difusão do vício, exploração do trabalho e violência que tende a se perpetuar.

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