São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amigo usou a arma do sequestrador para matá-lo

WILLIAM FRANÇA; LAURO VEIGA FILHO
DO ENVIADO ESPECIAL E DA AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA

Leonardo Pareja foi morto por traição, num esquema que previa a morte dele e de mais cinco detentos, planejado pelo melhor amigo do assaltante, Eduardo Rodrigues Siqueira, 24, o Pigmeu, que estava sob o efeito de drogas.
Essa é a conclusão preliminar da polícia sobre o caso que resultou em três mortes no Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás), na manhã de segunda-feira.
O delegado Siron Avelar, titular do inquérito, descartou a participação de policiais ou de um esquema de eliminação das lideranças do Cepaigo. Essa suspeita havia sido levantada pelo advogado de Pareja, José do Carmo.
A versão apresentada pela polícia coincide com a história contada à imprensa por Pigmeu e pelos outros quatro acusados da morte de Pareja e dos detentos Veriano Manoel de Oliveira Filho e Grimar Ferreira dos Santos.
Só tiros
Segundo essa versão, a morte de Pareja e de cinco detentos ligados a ele foi decidida no domingo à noite, depois que o grupo liderado por Pigmeu consumiu merla (subproduto da cocaína) e maconha.
"Eu pus uma certeza na cabeça: que era traição e decidi matar", disse Pigmeu, ontem.
Para isso, na manhã de segunda-feira, ele apanhou num esconderijo numa cela vazia uma pistola 45 mm -comprada por Pareja de um agente penitenciário há dois meses por R$ 1.500.
A arma seria usada por Pareja numa possível fuga, no Natal ou no Ano Novo, segundo a polícia.
Depois, às 7h15, armado com quatro chuchos (armas brancas artesanais), Pigmeu juntou-se a outros quatro detentos, repassou a pistola para Eurípedes Dutra Siqueira, 24, condenado a 35 anos por latrocínio, e atacou Veriano na cela. Ele levou 20 facadas.
Atraído pelos gritos do amigo, Pareja foi ver o que acontecia. Foi cercado pelo grupo na entrada do pavilhão, no térreo, e levou sete tiros da sua própria pistola.
Eurípedes disse que deu "uns três tiros" em Pareja. Acertou sete. Pigmeu, que ainda estava sob efeito de drogas, afirma que deu duas facadas em Pareja.
Com Pareja morto, o grupo subiu para o terceiro andar, onde Grimar foi morto, na cela, com um tiro na testa.
O primo de Pareja, Marco Aurélio, que estava na cela de Grimar e também era marcado para morrer, escapou porque se fingiu de morto. O grupo não notou a simulação.
Com o alarme disparado, a segurança conseguiu dominar o grupo, que entregou a pistola, os chuchos, outro revólver calibre 38 (que não chegou a ser usado) e 45 balas.
(WILLIAM FRANÇA e LAURO VEIGA FILHO)

Texto Anterior: Entidade pagou custos
Próximo Texto: Rival agride namorada de morto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.