São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996 |
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'Turma do gordo' retorna em 'O Disco'
MARCELO REZENDE
Um best seller desde sua estréia em 1969, com "O Gênio do Crime" (mais de 1 milhão de livros vendidos), Marinho, 61, lança agora "O Disco". Ele traz mais uma vez a "turma do gordo", sua projeção da vida de aventuras entre meninos e meninas de um típico bairro paulistano, o Alto de Pinheiros. Para aqueles que têm agora 30 anos -ou um pouco mais-, Marinho ocupou o papel que antes pertencia a Monteiro Lobato. Incorporou ao imaginário de uma geração "a perseguição ao contrário", a possibilidade de "falsificações de figurinhas" ou outros crimes mais baixos e cruéis para um ser humano de 12 anos. "As crianças do meu tempo liam Lobato", disse Marinho à Folha, na tentativa de explicar o que seus livros trouxeram de inédito. Sem infantilismos Ele escreve para menores, mas seguindo sempre suas próprias regras, resumidas em um único mandamento: rejeitar os infantilismos. "Uma criança aos 11 anos é mais velha que um cavalo; tem quase a vida inteira de um cachorro. A infância dura mais que a adolescência. É mais rica que a adolescência." "O Disco", em suas 146 páginas, traz mais uma vez o universo cinematográfico de seu autor, agora substituindo as tramas policiais e os rocambolescos enredos detetivescos por uma viagem sideral. Durante as férias escolares, toda a turma (o gordo, Berenice e Edmundo) decide passar as folgas nas montanhas. Terminam encontrando um disco voador e a aventura. "Em 1994 eu estava em Monte Verde, uma região montanhosa, e, conversando com uma amiga (a quem dedico o livro), tive essa idéia dos discos voadores." Seus livros são geralmente indicados em escolas, apesar de sua inconstância em publicá-los. "Eu não vivo da literatura e não sei quando a vontade de escrever vai aparecer." Adultos Advogado trabalhista, Marinho passou parte de sua adolescência na Suíça e depois desenvolveu um trabalho com pessoas de baixa renda. Quando publicou "O Gênio do Crime" chegou a afirmar que adaptava a linguagem de alguns de seus clientes. Apesar de ter tentado a literatura adulta, foram os adultos que tentaram sua literatura infanto-juvenil. "Do Super-Homem o adulto também gosta, não se desliga quando cresce. Eu quando escrevo prefiro fazer a coisa bem feita", diz o escritor. João Carlos Marinho parece ter percebido, de maneira intuitiva, uma das máximas da crítica norte-americana para a literatura de formação: assim como a lingerie usada por uma mulher, ela deve agradar dois públicos distintos a um só tempo. Um dos personagens da turma, o frade, foi inspirado nos escritos do renascentista François Rabelais (1494-1553). Seu momento mais radical foi quando escreveu "Caneco de Prata", com textos surrealistas para crianças: "Estávamos vivendo um clima surreal em 1970. Uma ditadura e a alegria pelo futebol. O livro chegou a ser proibido". Sobre a maneira que concebeu o maior fetiche de seus leitores, "a perseguição ao contrário", lembra que interrompeu a feitura do "Gênio" por um ano, até ter a idéia: "Estava em São Sebastião (litoral norte de São Paulo), na água do mar, quando me veio a idéia. Fazer tudo pelo avesso!". Livro: O Disco Autor: João Carlos Marinho Lançamento: Companhia das Letras (146 págs.) Quanto: não definido Texto Anterior: 'Ele tinha senso de humor' Próximo Texto: A perseguição ao contrário* Índice |
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