São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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Frido Mann fala da psicologia do exílio

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é apenas com a literatura que a família Mann mantém estreita relação. Também o exílio faz parte de sua história, desde que a matriarca Júlia trocou Parati pela Alemanha. Nada a estranhar, portanto, na participação de seu bisneto, o escritor e psicólogo Frido Mann, na mesa-redonda "A Psicologia do Exílio".
O evento, que acontece amanhã às 20h no Instituto Goethe (rua Lisboa, 974, Pinheiros), com entrada franca, reúne também os cineastas Sylvio Back, Sérgio Toledo, Jeanine Meerapfel e Rita Buzzar. A mesa-redonda faz parte do ciclo "Imagens do Exílio".
O tema parece feito de encomenda para Frido Mann -que é neto de Thomas, sobrinho-neto de Heinrich e sobrinho de Klaus, todos também escritores.
Ele próprio nasceu no exílio, em 1940, na Califórnia. Só veio a conhecer o país de seus pais -onde reside atualmente- em 1964. "Durante minha infância, vivi uma profunda crise de identidade. Era um alemão em um país que estava em guerra com a Alemanha."
Sentiu na própria pele a perseguição nazista aos judeus (um dos temas principais de "Imagens do Exílio"): suas duas avós eram judias, sua tia-avó foi prisioneira em um campo de concentração.
"Esse também teria sido meu destino se meus pais não tivessem trocado a tempo a Europa pelos EUA", diz.
A fuga para outros países foi a solução encontrada pela maior parte dos Mann -mesmo os que não tinham vínculos com judeus eram perseguidos por serem intelectuais. Heinrich e Klaus aportaram nos EUA, onde acabaria ainda por residir Thomas, após passagem pela Suíça.
A saga familiar inspirou Frido a conceber uma trilogia sobre um clã originário do Brasil que emigra para a Europa. O primeiro volume foi concluído há algumas semanas.
O sentimento do desterro e a crise de identidade não são exclusividade dos Mann. Podem ser identificados em quase todos os alemães da geração de Frido, criada sob o estigma da culpa, sem direito a qualquer tipo de orgulho nacional.
"Apenas agora, com as gerações mais novas, o trauma começa a ser superado", explica Frido. "Elas têm uma postura crítica e estão mais abertas ao universalismo."
É o tipo de posição que Frido sempre tentou adotar. "É por isso que me sinto mais próximo da obra de Heinrich, um eterno crítico do germanismo e da monarquia alemã, embora, afetivamente, fosse mais ligado a Thomas." O autor de "A Montanha Mágica" teve sempre posturas políticas mais conservadoras.
Se o encontro dos alemães com a identidade perdida teve de esperar pacientemente a passagem do tempo, a de Frido foi acelerada por uma relação "dialética" com seu sogro, Werner Heisenberg.
O físico, um dos poucos intelectuais a não abandonar o país durante o período nazista, foi guindado à posição de principal cientista do Reich. Com ele, Frido pôde apreender o ponto de vista dos que ficaram e se reconciliar com a origem germânica.

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