São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comissão pedirá cassação de envolvido em escândalo

DANIEL BRAMATTI
DENISE MADUEÑO

DANIEL BRAMATTI; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Decisão é tomada após acareação com diretor de empreiteira

A comissão de sindicância da Câmara decidiu pedir a cassação do deputado Pedrinho Abrão (PTB-GO) após a acareação realizada ontem entre o parlamentar e Alfredo Moreira, diretor da construtora Andrade Gutierrez em Brasília.
Segundo a Folha apurou, o presidente da Câmara, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), pretende colocar o pedido de cassação em votação na CCJ durante a convocação extraordinária do Congresso, que tem início no dia 6 de janeiro.
O pedido de cassação do deputado Marquinho Chedid (PSD-SP) também deve ser votado na CCJ durante a convocação. Chedid é acusado de extorquir dinheiro de donos de bingos durante a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que investigou irregularidades nas casas de jogo.
A acareação entre Abrão e Moreira reforçou as suspeitas sobre o envolvimento do parlamentar na tentativa de extorsão à empresa.
A Folha apurou que o relator da comissão de sindicância que investiga o caso, Hélio Bicudo (PT-SP), considerou correta a descrição que Moreira fez do gabinete de Abrão, onde teria sido pedida a propina.
A descrição derrubou a versão apresentada pelo deputado, que alegou jamais ter se encontrado com Moreira. A comissão marcou uma reunião para as 10h de hoje, a fim de concluir a redação do texto.
Abrão deve ser o único implicado no relatório, apesar de o deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE) também ter sido citado na denúncia feita pelo ministro Gustavo Krause (Meio Ambiente e Recursos Hídricos).
Segundo Krause, Landim teria testemunhado o pedido de propina (4% de uma verba de R$ 42 milhões, em troca da manutenção dos recursos para uma obra da Andrade Gutierrez no Ceará) e até tentado negociar uma redução.
Ontem, Landim voltou a depor e a dizer que não participou de nenhuma negociação. "Pinheiro Landim entrará no relatório como testemunha. O único alvo da investigação é Pedrinho Abrão", disse Bicudo.
Gabinete público
Depois de ter ficado frente a frente com o diretor da empreiteira, no depoimento, Abrão reconheceu que ele citou corretamente a disposição da mesa de trabalho de seu gabinete, de uma mesa redonda e de um quadro (a carta-testamento de Getúlio Vargas).
"Ele viu um quadro que estava às minhas costas, mas não viu outro, de dois metros por um, na parede lateral", afirmou.
Segundo Abrão, a descrição corresponde à de alguém que viu a sala a partir da porta: "Meu gabinete é público. Muitas pessoas passam por lá todos os dias."
O petebista voltou a dizer que é vítima de uma "armação" e acusou Moreira de estar "a serviço de alguém". Ele afirmou que vai interpelar Krause na Justiça, para que o ministro se explique sobre a denúncia.
Ainda que seja acusado pela comissão, Abrão terá chance de evitar a perda do mandato em outras duas instâncias: a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e o plenário da Câmara. Ontem, o deputado recebeu a solidariedade de seu sucessor na liderança do PTB, Vicente Cascione (SP). "O Pedrinho é inocente até prova em contrário. O partido está com ele."

Texto Anterior: Opinião incontestável
Próximo Texto: Tasso pressiona e açude vai ter verba
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.