São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
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Falta de coquetel contra Aids ameaça tratamento

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O atraso no envio dos medicamentos que compõe o coquetel anti-HIV aos Estados pelo Ministério da Saúde está deixando apreensivos os pacientes que já começaram o tratamento com as três drogas.
A interrupção no tratamento pode levar o organismo do paciente com HIV a criar resistências aos medicamentos, que deixam de fazer efeito.
Segundo Mário Scheffer, diretor do Grupo Pela Vidda, organização não-governamental de combate à Aids, os pacientes estão recebendo medicamentos suficientes para 15 dias, quando normalmente recebem por um período de um mês.
O diretor do programa estadual de DST/Aids, Artur Kalichman, nega que esteja ocorrendo um desabastecimento. Segundo ele, apenas uma parte dos inibidores de protease, um dos três medicamentos que compõem o coquetel, ainda está para chegar.
Kalichman confirma que os pacientes estão recebendo medicamentos para apenas 15 dias. "Nossa preocupação básica é não interromper o fornecimento. Com esta medida dobramos a capacidade de atendimento e ganhamos tempo para o recebimento de novos medicamentos, apesar do incômodo para os pacientes", afirma.
O Ministério da Saúde firmou um acordo com as secretarias estaduais da Saúde para garantir o atendimento a cerca de 10 mil pacientes. O custo do tratamento foi estimado em cerca de R$ 200 milhões por ano.
Pelo acordo, o ministério bancaria 70% da compra dos medicamentos, e os Estados e municípios bancariam os outros 30%.
"O Estado de São Paulo cumpriu a sua parte e está aguardando os medicamentos do ministério", afirma Kalichman.
Segundo ele, o atraso está ocorrendo no envio de uma das três marcas de inibidores de protease encomendadas pela Ceme (Central de Medicamentos).
Segundo o chefe de gabinete da Ceme, Jair Oliveira, os laboratórios estão entregando os medicamentos diretamente para as secretarias estaduais da Saúde.
Scheffer diz ainda que os critérios para a distribuição do coquetel também deveriam ser rediscutidos. "Os parâmetros internacionais que definem quem deveria receber o coquetel não está sendo seguido, porque os exames necessários não são feitos no Brasil ou demoram mais de três meses", diz.
Segundo ele, o problema acaba ocasionando um "racionamento", com menos pacientes recebendo o coquetel.
Segundo Kalichman, a secretaria da Saúde pretende aumentar, a partir de janeiro, o número de pacientes que estarão recebendo o coquetel.
Custo
O custo mensal do tratamento em clínicas particulares é de aproximadamente R$ 1.200 mensais, incluindo os exames periódicos que são necessários, segundo Scheffer. O Estado de São Paulo concentra cerca de metade do total de notificações de Aids no país.

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