São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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Dupla de 'Porca Miséria' volta improvisando

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois dramaturgos mais bem-sucedidos dos palcos paulistas acabam de colocar ponto final em uma nova comédia. Há cinco dias, Marcos Caruso, 44, e Jandira Martini, 51, terminaram de escrever "Os Reis do Improviso".
Considerando o currículo dos autores, o espetáculo deverá lotar por muito tempo o teatro Bibi Ferreira, na região central de São Paulo, onde estréia em maio.
"Jogo de Cintura", encenada logo depois, fez carreira de um ano em São Paulo. O sucesso mais recente, "Porca Miséria", manteve-se firme no mesmo Bibi Ferreira entre 93 e 95.
Os espetáculos, juntos, atraíram 950 mil pessoas, público que poderia formar uma fila de quase 400 km. Financeiramente, renderam uma média de US$ 10 mil mensais para cada dramaturgo -cifra impensável na época em que Caruso e Jandira eram somente atores.
Como as montagens anteriores, "Os Reis do Improviso" prioriza o humor, a crítica de costumes e a sátira política. Exibe, no entanto, uma característica singular, que o título denuncia logo de cara.
A peça se divide em duas partes. A primeira dura 30 minutos e se apóia num texto fechado. A segunda -mais longa, com uma hora- não tem script. Depende inteiramente da improvisação.
A fórmula, inusual no Brasil, remete à "commedia dell'arte". O gênero de origem italiana, que floresceu durante o século 17, contava com enredo e personagens fixos. Mas a ação e os diálogos eram sempre improvisados.
"Vamos promover um espetáculo diferente por noite", promete Caruso.
Assistindo à primeira parte da peça, a platéia conhecerá os irmãos Gonçalves. São todos atores. Michael (Eduardo Silva) mora nos Estados Unidos. Manolita (Jandira Martini), na Argentina. Mercedes (Eliana Rocha), em Cuba. E Mário (Marcos Caruso), no México.
Filhos de uma ex-crupiê, se encontram para realizar o sonho dourado da mãe, morta recentemente: montar um espetáculo musical em uma casa de jogos.
É justamente o que acontece na segunda parte de "Os Reis do Improviso". Sem dar muitos detalhes ("para não estragar a surpresa"), os autores dizem que o teatro se transformará em uma espécie de cassino.
O público participará de um bingo, e os vencedores poderão escolher, entre 1.400 possibilidades, o protagonista e o enredo do musical que os irmãos Gonçalves irão mostrar em seguida.
O que conta, a partir daí, é a agilidade do elenco, dirigido por Noemi Marinho. Os atores terão de improvisar diálogos, cenários, figurinos, ação. Nem a música escapará do fogo: uma banda vai criar a trilha da peça ao vivo.
"Claro que, por trás do improviso, há uma lógica norteadora, em que o elenco irá se basear sempre. O público, porém, jamais a descobrirá. É o segredo da Coca-Cola, um quebra-cabeça que levamos seis anos para bolar", avisa Caruso, enigmático.
Ele admite que a idéia de "um espetáculo diferente por noite" carrega motivações comerciais. "Queremos que as pessoas vejam a peça duas ou mais vezes."
Jandira prefere destacar o desafio que "Os Reis do Improviso" representa para o elenco. "Nossa maior preocupação é valorizar a interpretação dos atores."

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