São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Prêmios e egos

JUCA KFOURI

Sempre achei que quem dá prêmio a jornalistas são os leitores. Continuo achando, até porque o leitor é o nosso maior patrão.
Não nego, é óbvio, que ganhar um prêmio sempre massageia o ego do premiado, o que, não é nada não é nada, não é nada mesmo.
Admito, porém, que foi entre surpreso e feliz que soube ter sido eleito como "Profissional do Ano em Jornal e Revista" pela Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, a Aceesp, por meio de uma votação com cerca de 300 eleitores, sócios da entidade.
Surpreso porque tenho sido um crítico sistemático da própria Aceesp, que recebe participação nas rendas do Paulista, algo que considero eticamente condenável.
Além do mais, não tenho poupado os jornalistas esportivos que empresariam jogadores, promovem eventos, são garotos-propaganda, vendem placas, se acumpliciam com os cartolas etc.
Feliz porque, apesar disso, fui o escolhido, talvez numa demonstração de que haja mais companheiros de acordo com tais críticas do que eu poderia supor -o que dá, no mínimo, esperanças de mudança.
Sem demagogia, portanto, quero acreditar que o prêmio é menos meu e mais de um jeito de fazer jornalismo -por mais fora de moda que pareça, acredito piamente em que essa seja uma profissão que se distinga por seu caráter público e quase sacerdotal.
Daí ser obrigatório dividir o prêmio também com a equipe de esportes desta Folha e com o próprio jornal, que me permitiu, enfim, ter um espaço privilegiado para exercer meu ofício com total independência e liberdade.
Este ano de 1996 foi o primeiro que vivi de janeiro a dezembro dentro da Folha, o que aumenta a alegria pela homenagem, mesmo com tantos equívocos aqui cometidos na busca da verdade -e o erro é outra característica inerente a este duro e apaixonante ofício.
É extremamente recompensador saber, sobretudo, que aqueles que me deram o troféu estão solidários com a luta para que o futebol brasileiro atinja, fora do campo, a modernidade que merece, livre do mandonismo e da corrupção que o caracterizam.
Razão pela qual agradeço a distinção e concluo dizendo que, impedido de comparecer à premiação por motivos profissionais, nada foi mais simbólico do que ter um jovem repórter, meu filho André, recebendo o troféu por mim.

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