São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Telefonema gerou crise

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

As dificuldades financeiras que justificaram a intervenção do BC no Banespa, em dezembro de 94, vinham, pelo menos, desde setembro daquele ano.
No dia 9 de setembro, Carlos Augusto Meinberg, então presidente do banco, recebeu um telefonema do Bradesco, segundo a Folha apurou, avisando-o que em dois dias deixaria de financiar a dívida mobiliária do Banespa (papéis do Estado no mercado). Essa desistência foi decisiva para a crise.
No dia 12 de setembro, faltariam R$ 3 bilhões para o fechamento do caixa. O diretor de Fiscalização do BC, Alkimar Moura, autorizou a troca de títulos estaduais por federais -negociados mais facilmente.
Mas a troca, autorizada às 21h pelo BC, só se consumou à 1h. Foi a gota d'água para o mercado financeiro entender que o Banespa estava agonizando.
No dia 14, o banco buscou socorro no redesconto do BC, uma espécie de cheque especial para bancos com problema.
Dia 15, às 8h, Meinberg e o então governador Fleury desembarcaram em Brasília. Meinberg seguiu para uma reunião com Malan, então presidente do BC, e Alkimar.
Fleury foi para o Planalto para se encontrar com Itamar Franco, então presidente. Itamar chamou o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, para a conversa. "Garantiram que o governo não pensava em intervir no banco", contou Fleury.
Enquanto isso, Meinberg acertava com o BC duas operações para tirar o Banespa do sufoco. O problema imediato de caixa seria resolvido pelo Banco do Brasil. A dívida do Estado com o banco (então de cerca de R$ 7 bilhões) seria securitizada -transformada em títulos de crédito, lastreados por estatais que seriam privatizadas.
Segundo Meinberg, o acerto com o BB funcionou até 29 de dezembro. Naquele dia, o Banespa precisava de R$ 6 bilhões. O BB repassou apenas R$ 400 milhões. O Banespa foi buscar a diferença no redesconto, mas o BC considerou as garantias oferecidas insuficientes. Ou seja, o Banespa terminaria o dia sem zerar o caixa. Configurava-se assim situação para a intervenção do BC.
No dia 29 pela manhã, Meinberg tentou falar com Malan, mas acabou atendido por Alkimar. O diretor do BC informou que o BB não estava conseguindo levantar o dinheiro, mas que o BC estudava uma opção.
"Malan disse que a intervenção ainda estava em estudo e que tão logo estivesse decidida, me avisaria", conta Fleury. "Estou esperando até hoje."
Fleury ainda tentou falar com Itamar, mas foi informado de que ele tinha ido ao cinema com a namorada. Não localizou FHC, o presidente eleito.
Quase meia-noite, Meinberg foi até Mário Covas, que disse que não poderia fazer nada. Meinberg ainda estava no apartamento de Covas, por volta de 1h, quando telefonema o informou que a intervenção havia sido oficializada.
(SQ)

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