São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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blur

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O britpop é uma farsa. A opinião é de uma das bandas consideradas fundadoras e expoentes do movimento, o Blur, e antecipa a direção tomada em seu quinto disco, sem título, que terá lançamento mundial em janeiro.
O lançamento marca a ruptura ideológica e musical da banda com o movimento que representou o renascimento do rock britânico nos anos 90.
Há duas semanas, o Blur deu suas primeiras declarações em muito tempo para a imprensa inglesa. E o baixista Alex James falou à Folha, com exclusividade, por telefone, direto de Londres.
A banda disse que rejeita o britpop e que os EUA estão produzindo melhor música que a Inglaterra. Além disso, abandonou a temática tipicamente britânica das letras.
No lado musical, o som da banda está menos pop, mais diverso e experimental. No novo CD, as inspirações em fontes clássicas do pop britânico foram quase todas lançadas janela afora. É o Blur soando como nunca se ouviu antes.
Outra novidade é que o Blur deve lançar um disco de remixes, contando com os talentos de Moby, Mario Caldato Jr. (produtor dos Beastie Boys) e Thruston Moore (guitarrista do Sonic Youth).
Leia a seguir trechos da entrevista de James.
*
Folha - Vocês voltaram rejeitando o britpop. Por quê?
Alex James - Na verdade nunca tivemos nada a ver com britpop. Foi só um rótulo que afixaram a um monte de bandas que tinham muito pouco a ver uma com a outra. É só uma maneira de fazer parecer que alguma coisa excitante está acontecendo.
Folha - O que aconteceu com a cena inglesa? Por um momento pareceu que havia uma dose renovada de energia na cena musical e agora parece que a coisa azedou.
James - A maior parte da música sendo feita sob esse rótulo é extremamente tediosa. Nunca tivemos nada em comum com as outras bandas rotuladas de britpop. Agora vamos ter menos ainda.
Folha - No último ano, o Blur meio que saiu de cena. Foi desilusão com a fama?
James - Não. Tivemos que reavaliar o que estávamos fazendo e o que queríamos obter. Percebemos que tínhamos que nos concentrar mais na música que na fama, pois é ela que nos satisfaz. Foi uma mudança de prioridade.
Folha - Pode-se concluir então que a banda não quer continuar encorajando a rixa Blur/Oasis.
James - Com certeza não. Isso é uma coisa tão velha, acho incrível que ainda falem sobre isso. Já superamos isso faz tempo. Foi promoção não pelo mérito musical e sim pelo hype criado pela mídia.
Folha - O novo disco representa uma mudança radical no som da banda. O que tem a dizer às pessoas que estão esperando o som de sempre do Blur?
James - Bom, nossos fãs estariam surpresos se lançássemos um disco parecido com o anterior, porque nunca fizemos isso. Quem conhece a banda só por alguns hits certamente vai tomar uma surpresa... uma agradável surpresa. É um disco muito pessoal, emocional. Folha - Uma das críticas mais comuns ao Blur fora da Inglaterra é de que a banda é inglesa demais para ser entendida fora de seu país. A mudança seria uma tentativa de ganhar apelo mais universal?
James - Tenho certeza que isso será um resultado dessa mudança, mas não foi a razão por trás dela. A razão foi realmente fazer um disco pessoal. Nós fazíamos questão desses "inglesismos", a música inglesa estava sendo ignorada e só se falava de música americana. O problema é que agora as coisas foram para o outro lado. Boa parte da música mais interessante está vindo da América, mas está sendo ignorada em favor do britpop.

LEIA MAIS sobre o Blur à pág. 4-10

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