São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Paulinho da Viola canta sem convidados

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulinho da Viola faz hoje, no Tom Brasil, zona sul de São Paulo, o primeiro show com músicas do disco "Bebadosamba", que chegou às lojas em novembro.
O espetáculo, embora o cantor não deseje, lembra a noite de 31 de dezembro do ano passado.
À época, Paulinho se reuniu com Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil e Milton Nascimento na praia de Copacabana (Rio) para homenagear Tom Jobim.
Depois da festa, revelou que ganhara cachê bem menor que o dos demais participantes. Foram R$ 35 mil contra R$ 128 mil.
Iniciou-se, então, um bafafá que mobilizou a imprensa, fãs e até a Câmara municipal. O incidente culminou com o rompimento público entre Gilberto Gil e Paulinho.
O espetáculo de hoje remete àquela noite primeiro por uma contingência geográfica. Realiza-se no Tom Brasil, casa que empresta o nome do maestro Jobim para, como o concerto de Copacabana, homenageá-lo.
Segundo, porque a Bandeirantes vai gravar o show e exibi-lo dentro de um especial no dia 30 de dezembro, às 22h10 -um ano depois do quiproquó.
A emissora chegou a anunciar que o programa se chamaria "Paulinho da Viola e Amigos". A intenção era que o cantor se apresentasse com convidados no Tom Brasil.
Há menos de um mês, a Bandeirantes levou o projeto para Elifas Andreato, responsável pela direção do especial. Ele, então, tratou de abortar a idéia.
Deu três justificativas:
1) Àquela altura, poucas semanas antes da gravação, seria difícil conciliar as agendas dos eventuais convidados e reuni-los em ensaios.
2) O programa deveria ter por mote a divulgação de "Bebadosamba" -e não o encontro entre o cantor e outros artistas.
3) Transmitir justamente no fim de 96 um especial sob o título de "Paulinho e Amigos" poderia soar como uma espécie de desagravo à confusão do ano passado.
O sambista, em nenhum momento, participou das negociações com a emissora. Na verdade, não queria enfrentar o palco agora.
Permaneceu os últimos meses dentro do estúdio, preparando "Bebadosamba", e se sente cansado. Preferia que o show ocorresse em março. Aceitou antecipá-lo por insistência de Lila Faria, sua mulher, e de Andreato.
Os dois argumentaram que o especial poderá fazer bem às vendagens do novo disco.
Dona Doca
Andreato sugeriu que o programa mescle trechos do espetáculo com um bate-papo entre o sambista e outros cantores. Paulinho ficou de pensar.
O diretor planeja reunir o grupo sábado, em Madureira, na casa de dona Doca da Portela. Durante um almoço, conversariam sobre música e "Bebadosamba". Também cantariam clássicos da velha guarda portelense.
Quem estaria no almoço? A idéia é convidar sambistas célebres da Portela, João Bosco e outros três nomes que recentemente gravaram canções de Paulinho: Marina Lima, Marisa Monte e Djavan.
Canalha
Promovido pela prefeitura do Rio, o concerto de Copacabana deveria marcar o "réveillon da virada" -a reação dos cariocas contra a decadência da cidade.
O que passou para a história, porém, acabou sendo a incontinência verbal dos envolvidos na "polêmica dos cachês".
Gilberto Gil, por exemplo, chegou a chamar Paulinho de "canalha" e fez desandar uma amizade de 30 anos.

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