São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor quer "revirar" fórmula clássica

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro filme catástrofe a estrear no Brasil, ainda este ano, é "Daylight" de Sylvester Stallone. Sem metralhadoras nem faixa na cabeça, seu personagem está mais para Rocky do que para Rambo. Mas o mais interessante do filme são as cenas de ação realizadas com muitos efeitos especiais.
O diretor do filme, Rob Cohen, tem experiência na área. Este ano, ele também lançou "Coração de Dragão", com novas técnicas que possibilitaram criar um personagem inteiramente por computador: o dragão Draco, que contracena com Dennis Quaid e tem a voz emprestada por Sean Connery.
Cohen, que se diz fã de "O Destino do Poseidon", falou à Folha por telefone, de Los Angeles, sobre "Daylight" (que estréia dia 25) e a volta do cinema catástrofe.
"Nos anos 70, as pessoas achavam legal ver aquela mulher gorda (Shelley Winters) nadando, era muito engraçado. Isso funcionou muito bem na época, como também funcionaram calças boca-de-sino e sapatos plataforma", disse. Leia os principais trechos da entrevista.
(PD)
*
Folha - Quais são as causas da volta do cinema catástrofe?
Rob Cohen - Uma delas é a nova tecnologia digital que está à nossa disposição e nos permite fazer coisas muito mais sofisticadas do que Irwin Allen fez em "O Destino do Poseidon". É uma área a ser reexplorada. Em "Daylight", a explosão do túnel, que foi feita com técnicas digitais totalmente novas, nunca seria possível em 1973. Se fosse feita, haveria uma grande chance de matar alguém.
Folha - Mas por que usar tecnologia para criar desastres?
Cohen - Estamos chegando ao final do milênio. Acho que há um sentimento inconsciente de que o homem não tem sido bom para a natureza, então por que a natureza seria boa para os homens? Se você luta contra vilões, e a natureza é vilã, ela se apresenta bastante poderosa diante de homens muito frágeis. O filme catástrofe se torna uma metáfora para essa batalha.
Folha - O sr. gosta dos filmes da década de 70?
Cohen - Eu era definitivamente fã de alguns dos filmes dos anos 70, "O Destino do Poseidon" em particular. Nele, há uma outra idéia, uma busca por Deus, um certo tipo de tema religioso por trás de toda a ação. Essa é uma das razões pelas quais o personagem de Gene Hackman é um padre. Um tempo depois, os filmes catástrofe ficaram um tanto quanto exagerados.
O que tentei fazer em "Daylight" foi trazer à tona a idéia de que não há salvador. A salvação só ocorre quando esse grupo de pessoas começa a salvar umas às outras, a formar uma comunidade.
Folha - Qual a diferença entre esses filmes e as novas produções?
Cohen - Nos filmes anteriores havia as estrelas no elenco secundário, conferindo um certo exagero. Essa fórmula dava muito certo nos anos 70. As pessoas achavam legal aquela mulher gorda nadando, era muito engraçado. Isso funcionou muito bem na época, como também funcionaram calças boca-de-sino e sapatos plataforma.
O que tento fazer nos anos 90 é dizer OK, aqui está a mesma fórmula, mas vamos revirá-la. Não há um elenco secundário de estrelas, apenas bons atores, então há um certo senso de realidade.

Texto Anterior: Valores em cheque; Vida dura; Invasão mexicana
Próximo Texto: A Volta do Cinema Catástrofe
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.