São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Arte é língua universal em festival londrino

WAGNER ARAUJO

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O "Mundo das Artes" chegou a Londres para mostrar para o público inglês que a arte, principalmente a música, é definitivamente a língua universal.
O festival de cores e sons das oficinas, workshops, debates, exposições, feira e performances do Global Spirit - Womad, World of Music, Arts and Dance aconteceu no início do mês, no Barbican Centre, em Londres, um grande espaço cultural com galerias e teatros. Foi lá que, em novembro último, Marisa Monte fez um grande show.
Alguns podem chamar de exótico -a batida é estranha, bem como os instrumentos e as línguas-, mas um bom adjetivo para a amplitude e riqueza do Womad é "plural".
Na primeira edição apresentada em Londres (em 14 anos de atividades do Womad pelo mundo) se apresentaram 20 grupos.
Músicos, bailarinos e contadores de histórias vindos de países como Irã, Japão, Índia, Paquistão, Zaire e Ruanda trouxeram a Londres um outro ritmo.
Além da possibilidade de ver bons espetáculos, existe a oportunidade de troca de informações -um dos grandes méritos desse festival.
O diálogo de culturas que aconteceu durante o Womad funcionou como se os espectadores tivessem sido convidados a viajar ao redor do mundo.
Durante a viagem, eles tiveram a chance de compartilhar os mistérios e a magia de tradições culturais raras vezes acessíveis ao grande público.
Apresentaram-se os Sabri Brothers, do Paquistão, e "a mensagem que comove o coração para ver Deus". O grupo de dez irmãos e amigos cantam o qawwali, a devocional música dos sufis (místicos do Islã).
A cultura dos celtas, um dos povos mais antigos da Europa, ganhou expressão na bela voz do irlandês Iarla O'Lionaird, que fez um show à capela cantando músicas em gaélico, a língua dos celtas.
Enquanto Ruanda tenta resistir às tragédias, os bailarinos do Isonga dançaram, cantaram e tocaram temas que contam a história do país e a busca por paz.
O debut na Grã-Bretanha, com "The Peace Sun", dessa companhia que até 1994 fazia parte do Balé Nacional de Ruanda, chamou a atenção da audiência para os sérios problemas vividos por aquele país.
Nos últimos dois anos, vários bailarinos foram mortos, e outros desapareceram perseguidos por grupos rivais.
Para retomar os trabalhos, o diretor da companhia saiu pelo país procurando artistas.
O grupo que se apresentou é composto por bailarinos e músicos de todos os grupos populacionais e de todas as regiões do país.
O tanzaniano Hukwe Zawose, admirado por suas habilidades vocais e tido em seu país como um herói nacional, cantou, dançou, tocou instrumentos rústicos e de sonoridade impressionante.
O Barbican convidou o artista e músico francês Robert Hebrard para recriar quatro instrumentos musicais representativos de várias partes do mundo em bambu.
Essas gigantes esculturas foram instaladas em vários pontos do Barbican. Os instrumentos puderam então ser vistos e tocados pelo público e também apreciados no workshop ministrado pelo artista.
Memorável performance fez Papa Wemba, do Zaire, com um vocal tocante, aprendido ouvindo sua mãe, uma "profissional do luto" paga para chorar e cantar em funerais.
A programação encerrou-se com Salif Keita, de Mali, que fez o público dançar ao ritmo de suas fortes canções e excelente banda.
Durante os três dias do Womad, crianças e adultos dançaram, tocaram, tiveram acesso a instrumentos de diversas formas e sonoridades, feitos com materiais não-convencionais.
O Brasil não está na rota da turnê nem tem nenhum artista listado nas atividades já fechadas do Womad para 1996, 97 e 98.

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