São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Texto da OCDE critica sistema brasileiro

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O Brasil não integra a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que une os 28 países supostamente mais industrializados do mundo.
Mas o "Panorama Econômico" que a organização divulgou ontem, em Paris, sua sede, acaba sendo uma crítica direta e abrangente a tudo o que o governo brasileiro faz ou planeja na área fiscal.
Começa por definir como "desafio fundamental em política macroeconômica" a continuidade da consolidação fiscal -de acordo com a ortodoxia econômica que impregna os estudos da OCDE.
O Brasil acaba de registrar o mais elevado déficit fiscal da década (diferença entre receitas e despesas).
Mas a OCDE discute também a qualidade das medidas para consolidar a situação fiscal.
São de má qualidade, na visão de seus peritos, exatamente as providências que vêm sendo tomadas no Brasil, a saber:
1 - Elevações adicionais substanciais dos impostos em países em que o peso fiscal já é alto.
No Brasil, a carga fiscal passou, com a estabilização da moeda, a ser de pouco mais de 30% de seu PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por ano).
É um peso considerado excessivo pelos agentes econômicos; mas, não obstante, o governo introduziu uma nova taxação (a CPMF, destinada exclusivamente a fornecer recursos para a saúde) e elevou o ITR (Imposto Territorial Rural).
Por mais que sejam providências setorialmente defensáveis, enquadram-se no quesito aumentar a carga fiscal onde ela já é elevada.
2 - O documento da OCDE também critica medidas que fazem efeito uma única vez e cita "transferência de capital de empresas públicas" para o Tesouro.
No Brasil, cogita-se, por exemplo, usar recursos da privatização da Vale do Rio Doce para reduzir a dívida pública, cujos juros contribuem poderosamente para o déficit fiscal. É a típica medida que só faz efeito uma vez.
3 - A OCDE ataca medidas "que podem ter que ser revertidas, incluindo congelamento de salários do setor público e adiamento de investimentos públicos".
Para a organização internacional, esse tipo de providências só "retarda a necessidade de ajustes fiscais mais fundamentais".
O governo brasileiro congelou tanto o salário do funcionalismo como o investimento.
A saída, diz o "Panorama Econômico", é um "programa (de consolidação fiscal) concreto, sustentável e transparente".
Sugere que se estabeleçam metas e princípios fiscais globais e recomenda que, em alguns casos, as metas se tornem obrigatórias, "o que pode reforçar a credibilidade, ainda que, em muitos casos, se verifique ser difícil implementá-las".
Mas o texto vai além. Sugere reformas estruturais, para que as economias se adaptem à globalização e às novas tecnologias. E introduz a questão da pobreza e da exclusão, temas que pouco frequentavam, até recentemente, os documentos dos ortodoxos.
Mas a OCDE adverte contra "medidas redistributivas que distorçam pesadamente as decisões econômicas, pois tendem a bloquear o crescimento". Sugere medidas que "estimulem a formação de capital humano" -ou seja, investir em educação.

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