São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Mastroianni morre à margem esquerda do Sena

BETINA BERNARDES
DE PARIS

O ator Marcello Mastroianni, 72, morreu às 6h (3h de Brasília) de ontem, em Paris, vítima de câncer no pâncreas.
Mastroianni seguia tratamento para a doença havia alguns meses. Em sua última aparição pública, em maio, no Festival de Cannes, estava abatido e parecia cansado.
Ele apresentou no festival o filme "Três Vidas e Uma Só Morte", de Raoul Ruiz, onde contracenava com a filha, Chiara, nascida da união com Catherine Deneuve.
As duas e o ator Michel Piccoli estavam ao lado de Mastroianni no momento de sua morte.
O apartamento do ator em Paris fica no número 91 da rua de Seine, em Saint Germain de Près, na margem esquerda do rio Sena.
Ontem, após a notícia de sua morte, dezenas de pessoas se aglomeraram em frente ao imóvel, em busca de notícias. Fãs depositaram dois buquês na porta do prédio.
Às 14h30, Deneuve saiu do apartamento, usando óculos escuros e um lenço em volta da cabeça, que não escondiam seu abatimento.
A atriz Cláudia Cardinale e o diretor Marco Ferreri foram ao apartamento prestar homenagem.
Em Roma, a água da Fontana de Trevi, imortalizada pela cena protagonizada com Anita Ekberg em "A Doce Vida", foi cortada em sinal de luto. O monumento foi coberto por um tecido preto.
Gentileza
"Nos últimos tempos, por causa da doença, ele costumava esperar por seu chofer aqui dentro da loja. Era simples e gentil, nem parecia uma estrela", disse à Folha Olívia Hailly, que trabalha na tinturaria ao lado do prédio de Mastroianni.
O ator trabalhou em cerca de 160 filmes ao longo de sua carreira, tendo como diretores os mais prestigiados cineastas do mundo.
Nascido em Fontana de Liri (sul da Itália) e enviado a campos de trabalho pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, Mastroianni chegou a Roma em 45, onde começou a trabalhar em uma sociedade de cinema. Lá encontrou Visconti, Antonioni, Scola.
Mas é com Federico Fellini que ele vai formar uma dupla inesquecível, fazendo juntos obras-primas como "A Doce Vida" e "8 e 1/2".
Mastroianni ganhou duas vezes o prêmio de melhor interpretação no Festival de Cannes, com "Drame de la Jalousie", de Ettore Scola, em 70, e "Olhos Negros"', de Nikita Mikhalkov, em 87.
"Ele entrou ainda vivo na legenda do cinema. É toda a cultura francesa que se inclina hoje diante desse representante excepcional da cultura italiana", afirmou ontem o ministro da Cultura da França, Philippe Douste-Blazy.
"Foi um grande ator até o fim, pois, já enfraquecido pela doença, filmou ainda em setembro em Portugal, com o cineasta Manoel Oliveira", completou o ministro.
Na tarde de ontem, circulavam informações desencontradas sobre o enterro do ator. Não se sabia ainda se o corpo seria transferido para Itália ou se ficaria na França.

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